São Paulo – Os chamados "prédios verdes", com características que os enquadram como sustentáveis, começam a ganhar espaço na construção civil brasileira, e algumas empresas já pleiteiam certificação para esses edifícios junto a órgãos internacionais como o United States Green Building Council (USGBC). Na semana passada, o Banco Real recebeu a certificação internacional Leadership in Energy and Enviromental Design (Leed), do USGBC, para uma agência inaugurada em janeiro, em Cotia (SP), com características de construção ambientalmente correta.

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Segundo o Banco Real, esta foi a primeira construção sustentável da América do Sul certificada conforme os critérios da Leed. Outros edifícios do Brasil aguardam certificação, caso do Eldorado Business Tower, empreendimento da Gafisa, e do Plaza Mayor Alto da Lapa, da Even Construtora e Incorporadora.

Na comparação com projetos tradicionais de agências do Banco Real, o modelo sustentável aproveita mais a luz natural e tem piso, portas e batentes de madeira certificada. "Durante a construção, mandamos os restos de argamassa para uma fábrica de tijolos, e compramos os tijolos dessa empresa", diz o superintendente de Engenharia e Arquitetura do Banco Real, Carlos Henrique Tonon. Segundo o executivo, todas as agências abertas depois da de Cotia foram produzidas conforme esse projeto.

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A construção da primeira agência sustentável do Banco Real foi 30% mais cara que a média. "Boa parte foi o custo do aprendizado. Hoje, a diferença é de menos de 10%", conta Tonon. Isso deve-se segundo o executivo, à falta de linha comercial de alguns insumos e ao número reduzido de fornecedores desses materiais. "O investimento vai se pagar ao longo do tempo, à medida que tivermos, por exemplo, um menor consumo de energia."

Recentemente, representantes do setor de construção civil constituíram o Conselho Brasileiro de Prédios Verdes (Green Building Council do Brasil) para estimular a produção de empreendimentos com baixo impacto ambiental. O Conselho Brasileiro de Prédios Verdes fará as adequações necessárias à certificação internacional Leed, do USGBC, para os prédios construídos no País e, futuramente, poderá certificar edifícios considerados sustentáveis.

O USGBC certifica empreendimentos com base em critérios como eficiência energética e construção em áreas previamente urbanizadas para evitar impactos ambientais, segundo o diretor de engenharia e consultoria em sustentabilidade da Cushman & Wakefield, João Pacheco. No Brasil, a Cushman é uma das empresas que oferecem consultoria para que uma edificação possa ser considerada um prédio verde pela norma Leed do USGBC.

Para o professor do Departamento de Engenharia Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), Vanderley John, tanto a certificação Leed quanto a francesa Haute Qualité Environnementale (HQE) são "sistemas ótimos, mas que não foram feitos para o Brasil". "A certificação tem um objetivo de marketing e não necessariamente eleva a sustentabilidade da construção civil brasileira", diz. Segundo John, as empresas podem produzir um edifício adequado ao sistema de certificação, mas manter o padrão tradicional nos demais.

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Na avaliação do professor da Poli-USP, não basta que a construção seja considerada "verde" para ser sustentável. "Hoje há muitos produtos vendidos como verdes, mas existem telhas recicladas que não duram dois anos e depois viram resíduos. Se o produto tiver de ser substituído rapidamente não é sustentável."

O diretor técnico da Tecnisa, Fábio Villas Boas, lembra que alguns avanços do setor dependem ainda de ajustes na legislação. "Fala-se em reuso da água, mas a questão não está regulamentada" afirma Villas Boas. O executivo questiona quem fará o controle e como serão tratadas as tarifas se a água for reutilizada nos edifícios.