Preocupações com a economia brasileira e o cenário global voltaram a pressionar o dólar nesta sexta-feira (18), levando a cotação da moeda americana para o maior valor em quase 13 anos. O clima de aversão ao risco também afetou a Bolsa brasileira, que caiu mais de 2%.
O dólar comercial, utilizado em transações de comércio exterior, avançou 2% no dia e 2,14% na semana, para R$ 3,961. É o segundo maior valor histórico da moeda americana, atrás apenas dos R$ 3,990 que registrou no fechamento de 10 de outubro de 2002 (corrigido pela inflação, a cifra seria de R$ 6,76 hoje). Na máxima da sessão, a divisa chegou a R$ 3,963.
Já o dólar à vista, referência no mercado financeiro, terminou o dia em alta de 0,82%, para R$ 3,917 na venda. É o maior valor desde 22 de outubro de 2012, quando fechou em R$ 3,935 (ou R$ 6,67 hoje). Na semana, houve valorização de 0,97%.
Segundo operadores, a moeda americana continua refletido a percepção do mercado de que importantes medidas de ajuste fiscal propostas pelos ministros Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento) terão dificuldades para ser aprovadas no Congresso ou serão rejeitadas.
“Isso ampliou a percepção do mercado de que o Brasil terá em breve sua nota soberana rebaixada por outra agência de classificação de risco”, disse Felipe Martins Silveira, analista da corretora Coinvalores, referindo-se ao corte anunciado em 9 de setembro pela Standard & Poor’s, que retirou o selo de bom pagador do país.
O receio é que o Brasil também perca o chamado grau de investimento das agências Fitch e Moody’s. Com duas classificações como essa, grandes fundos estrangeiros teriam que retirar suas aplicações do país por causa do maior risco de calote.
No caso da Fitch, a nota brasileira (“BBB”) está dois degraus acima do limite entre grau de investimento e especulativo, por isso mesmo que a agência resolva cortar a nota do país em um nível, o Brasil manteria o selo de bom pagador.
“A S&P pode cortar dois degraus de uma vez, não há nada que a impeça de fazer isso, mas é pouco provável”, disse Lauro Vilares, analista da Guide Investimentos. Já na Moody´s, a classificação do Brasil é “Baa3”, a apenas um passo de perder o selo de bom pagador.
JURO AMERICANO
O cenário externo também pesou negativamente sobre os mercados brasileiros nesta sessão. Os motivos que levaram o Fed, o Banco Central dos EUA, a optar pela manutenção dos juros na véspera preocupam os investidores ainda que a decisão seja vista como positiva.
Para o Fed, a desaceleração econômica global, especialmente da China, deve continuar prejudicando os preços das commodities e, assim, os países emergentes. O desempenho de outras economias influencia na decisão do Fed pois pode prejudicar também o resultado norte-americano.
Este cenário derrubou os principais índices de ações globais nesta sexta-feira, influenciando também a Bolsa brasileira. O Ibovespa teve baixa de 2,65%, para 47.264 pontos. Na semana, porém, houve alta de 1,86%.
Os preços do petróleo no exterior tiveram nova queda nesta sexta-feira, afetando as ações da Petrobras. A estatal viu seu papel preferencial, mais negociado e sem direito a voto, cair 3,31%, para R$ 7,60. Já o ordinário, com direito a voto, cedeu 3,99%, para R$ 8,91.
Também afetou os papéis da Petrobras a notícia de que a estatal propôs a seus empregados um reajuste salarial abaixo da inflação. Em reunião na quinta-feira, a empresa apresentou proposta de aumento de 5,73%, bem inferior aos 9,53% do IPCA acumulado em doze meses encerrados no fim de agosto.