Tablets: os deputados precisam?| Foto: Divulgação
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Se depender da promessa do governo federal e dos concorrentes da Apple, até o fim do ano o Brasil terá uma grande oferta de tablets – e muitos inclusive produzidos por aqui. De um lado, empresas planejam lançar produtos competitivos neste mercado – pequeno e promissor, mas já dominado pelo iPad. Na outra ponta, o governo estuda incentivos fiscais e políticas para atrair a produção local do produto e, consequentemente, tecnologia e investimento para o país.

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Apenas dois dos grandes fabricantes (Samsung e a Apple) comercializam aparelhos no Brasil atualmente. E mesmo com as duas marcas, foram vendidos cerca de 100 mil tablets no ano passado no país, segundo dados da consultoria IDC Brasil. A expectativa para 2011 é a de que esse número triplique. Mas no jogo de previsões, algumas variáveis são determinantes.

A mais discutida nas últimas semanas – e a mais importante – é a aprovação de uma emenda à Medida Provisória 517, que prevê o enquadramento de tablets na Lei do Bem. No seu capítulo de inclusão digital, a lei beneficia alguns aparelhos de tecnologia da informação isentando-os de PIS e Cofins, os chamados impostos sociais, que equivalem a 9,25% do preço sobre o produto.

O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, à frente das discussões sobre o tema, indica que há um consenso para um resultado positivo no Congresso. A presidente Dilma Rousseff tem participado das conversas e demonstrado interesse e uma boa expectativa sobre o potencial benefício para a indústria (aumento de produção, novas tecnologias, mais investimento em pesquisa) e para a população (acesso à informação, geração de empregos, educação).

Na expectativa

Para o diretor de informática da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Hugo Valério, a desoneração "é fundamental para o setor e para que a tecnologia chegue, de fato, à população". Valério pondera que apesar da "grande expectativa", o trabalho será inútil se não for construída uma "infraestrutura que garanta conexão boa e universal" em todo o país.

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Alguns fabricantes dizem que foram procurados pelo governo para tratar do tema. Entre as empresas, a redução de impostos é considerada "essencial para o desenvolvimento do mercado", resume a diretora de desenvolvimento de produtos da Positivo Informática, que pretende produzir e lançar um modelo de tablet no segundo semestre.

A Samsung, que já produz o Galaxy Tab no Brasil e pretende trazer novos modelos nos próximos meses, prefere não fazer estimativas sobre o impacto da possível proposta do governo no preço final de seus produtos. O tablet atualmente pode ser encontrado por R$ 1,7 mil – o iPad custa a partir de R$ 1,4 mil.

O preço competitivo do iPad tem sido uma das dificuldades dos concorrentes e a MP poderia trazer uma vantagem para os produtores locais de tablets. A Itautec, outra que promete lançar um tablet no início do segundo semestre, também aposta na redução de impostos. "Se tivermos produtos bons e imposto menor, é possível competir com o iPad", disse o vice-presidente da unidade de computação da empresa, José Roberto Ferraz de Campos.

Atualmente, o principal concorrente do iPad nos Estados Uni­dos é o modelo Xoom da Motorola. No próximo dia 12 há uma coletiva de imprensa da marca, e especula-se no mercado que seja anunciado o lançamento de um tablet.

Já a Asus promete trazer quatro modelos de tablets para o Brasil no segundo semestre, começando pelo modelo Transformer, que utiliza uma base com teclado e formato de laptop.

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Concorrência

Se 2011 será o ano da enxurrada de concorrentes do iPad, 2012 promete ser o da "briga por preços", afirma Luciano Crippa, analista da IDC Brasil que estuda esse mercado. Os iPads mais básicos com 16 GB, sem 3G e sem câmera, custam R$ 1,4 mil. Para Crippa, se um fabricante suprimisse as fraquezas técnicas e vendesse seu produto por um preço menor, ainda teria de superar o peso da marca da Apple.

Apesar disso, o mercado ainda tem uma demanda muito grande por aparelhos mais acessíveis. Cerca de 40% dos 100 mil tablets vendidos no ano passado são de fornecedores "não oficiais".

Na famosa rua de eletrônicos de São Paulo, a Santa Ifigênia, o Galaxy Tab da Samsung é facilmente encontrado por R$ 1,5 mil. O primeiro tablet da Apple sai por R$ 1,75 mil. Procurando bem, encontra-se até o novo modelo, o iPad 2, e de todos os tipos (de 16 GB/Wi-Fi até 32 GB/Wi-Fi e 3G). O co­­merciante disse que conseguiu os aparelhos três dias após o lançamento nos Estados Unidos e cobra entre R$ 2,2 mil a R$2,8 mil por eles. Além das marcas conhecidas, encontram-se na rua, em abundância, tablets da coreana Coby, chamados Kyros, por preços que vão de R$ 300 a R$ 400.

O Instituto de Pesquisa Econô­mica Aplicada (Ipea), a pedido do governo, fez um estudo com o objetivo de entender o setor de telecomunicações e sugerir modos de dinamizá-lo. A responsável pelo trabalho, Fernanda De Ne­­gri, acredita, em termos de política industrial, que o governo faz bem em desonerar produtos como os tablets, mas ainda enumera uma série de barreiras a serem quebradas, como investimento em infraestrutura, a conclusão do Plano Nacional de Ban­­da Larga (e acesso mais rápido nos grandes centros) e uma visão mais estratégica em relação às compras públicas.

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