Curitiba O novo presidente mundial da Renault, o brasileiro Carlos Ghosn, visitou durante dois dias desta semana o complexo industrial do grupo em São José dos Pinhais e criticou a alta carga tributária brasileira incidente sobre os veículos. É isso que, segundo ele, acaba influenciando o tipo de carro que o consumidor nacional compra. "Para comprar um carro no Brasil, o consumidor tem que estar muito motivado", destacou.
O brasileiro que assumiu a presidência mundial da Renault em maio afirmou durante entrevista coletiva à imprensa que os carros populares brasileiros, que respondem por 50% do mercado, são mais baratos, mas não representam o melhor que a indústria automotiva pode produzir. "São carros adaptados às condições do mercado. Não há como apurar lucro em cima de um carro popular", destacou Ghosn.
Ouvindo opiniões
O executivo veio ao Brasil para visitar a montadora no Paraná, antes de começar a traçar o programa de médio prazo para administração da empresa, que será concluído até o fim do ano.
Do trabalho de Ghosn constarão os novos objetivos da Renault, planos de ação e as prioridades que a montadora deverá seguir nos próximos três anos. "As pessoas que conhecem a fundo a Renault são as que passam mais tempo na empresa. Eu estou ouvindo estas pessoas para então poder elaborar o plano de ação", acrescenta.
Segundo ele, o programa da Renault será diferente do implantado na Nissan, cuja presidência o executivo assumiu em 1999. "Na Renault temos uma situação totalmente diferente. A empresa não tem dívidas e, em 2004, a margem de rentabilidade ficou acima de 5%", destaca.
Ghosn pretende fazer na Renault do Brasil o milagre que realizou na Nissan no Japão. Em 1999, quando assumiu a Nissan, a montadora japonesa estava à beira da falência, com US$ 20 bilhões de dívida e utilização de capacidade de apenas 50%. Três anos depois, a Nissan não somente dava lucro, como também crescia. "O que nós sabemos fazer no Japão, deveríamos fazer também no Brasil", afirmou Ghosn.
Indagado sobre o que acha do mercado automobilístico brasileiro, Carlos Ghosn disse que ele apresentou uma certa estabilização nos dois últimos anos, mas que o Brasil merece mais do que tem.
Investimentos
O presidente mundial da Renault descartou qualquer possibilidade de fechamento de fábricas, ao contrário do que fez com o chamado "revival plan", que tirou a Nissan do buraco, quando cinco fábricas foram fechadas e 21 mil funcionários, ou 14% da força de trabalho, foram demitidos.
Para Ghosn, o ambiente de investimentos no Brasil melhorou, mas ainda há problemas de competitividade. O executivo informou que 65% dos motores fabricados no Brasil pela Renault são exportados para a Europa, porque o produto brasileiro tem qualidade e é competitivo em custos. O motor brasileiro, por exemplo, custa entre 15% e 20% a menos do que os produzidos na França. Entretanto, quanto aos preços oferecidos pelos mercados da China, Tailândia e Índia, ele disse que não há nem o que discutir. Esses países estão em competição direta com o Brasil, admite Ghosn.
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