O presidente da Vale, Roger Agnelli, disse nesta sexta-feira, durante coletiva para apresentação dos resultados recordes da companhia no terceiro trimestre, que a expectativa é de que os últimos meses do ano não sejam "tão brilhantes". Nesta quinta-feira (23) a empresa divulgou que seu lucro saltou 166% entre julho e setembro para R$ 12,433 bilhões. Para Agnelli, o último trimestre do ano será importante para "botar a casa em ordem". Ele confirmou que a crise financeira já levou a empresa a reduzir a produção em plantas com custo mais elevado. Entre os exemplos citados pelo executivo estão a PT Inco, na Indonésia, e a unidade de Dalian, na China, duas produtoras de níquel.
- O quarto trimestre não deve ser tão brilhante como o terceiro, mas estamos trabalhando com tranquilidade - afirmou Agnelli.
Agnelli admitiu reduzir o ritmo dos investimentos se a crise se agravar, mas qualquer decisão somente será tomada no final de 2009. Para o próximo ano, ele garantiu que não haverá problema para executar o plano de investimentos anunciado recentemente, de US$ 14,2 bilhões. Os recursos estão contidos dentro de um plano maior, de US$ 59 bilhões até 2012.
- Já temos linha de crédito assegurada para os nossos projetos no JBIC, Exim, BNDES...estamos entrando na crise praticamente sem dívida e nossos projetos vão começar a ficar prontos no final de 2009, 2010, quando a crise já pode ter amenizado - avaliou.
O presidente da Vale afirmou que o Brasil está em "situação bastante positiva" e que seus clientes brasileiros ainda não deram sinal de retração na demanda, com exceção do segmento de ferro-gusa.
Já na China, principal mercado da Vale, e onde a empresa tenta conseguir um ajuste adicional para o preço do minério de ferro de 12% , é mais nítido o impacto da crise mundial. Agnelli reconheceu que a China está com muito minério estocado e que quando ela voltar a comprar as empresas venderão a preços mais baixos. No entanto, ele ressaltou que a situação financeira da companhia não torna necessário que ela venda seus produtos a qualquer preço.
- O mercado está passando por um ajuste muito severo, onde as empresas estão desovando estoques para fazer dinheiro. Mas nós podemos aguardar e não vamos vender a qualquer preço. Hoje estão todos priorizando a queima de estoque. No caso da China, eles estão reduzindo a compra, porém estamos prontos para atendê-los assim que quiserem comprar. Por hora, eles vão comprar de quem vender mais barato. Então que comprem - afirmou, destacando que hoje a China vive o que ele chamou de "um tranco muito forte", que reduziu seu crescimento de 12% para algo entre 7% e 9%.
- Por isso vamos esperar, dar um tempo, para depois conversar - acrescentou.
Em contrapartida, a Vale, segundo Agnelli, não espera um calote em seus contratos de longo prazo com clientes chineses. Ele disse que a empresa investiu durante anos na China para atender a esses clientes e que, se for necessário, serão negociado prazos mais longos, além dos habituais.
Empresa não descarta aquisições, mas nega rumores de compra da Xstrata
Agnelli destacou que projetos do segmento de fertilizantes seguirão a pleno vapor em 2009, "porque todos continuam comendo", e que os projetos de carvão, como o de Moatize, em Moçambique, África, são prioritários, assim como o de minério em Serra Sul, e o de cobre de Salobo, no Brasil.
- Serra Sul tem minério de altíssima qualidade e pode substituir projetos de custo maior - disse Agnelli. - Temos saúde e fôlego para passar essa fase e estar mais fortes no fim - concluiu.
Ele não descartou eventuais aquisições para agregar valor à companhia nesse momento de crise, mas disse que até o momento os projetos para o crescimento orgânico estão mais eficientes do que qualquer ativo disponível no mercado.
- Os ativos ainda não chegaram ao preço de competir com o nosso crescimento orgânico - afirmou, negando os rumores de que estaria novamente interessado na mineradora anglo-suiça Xstrata ou na norte-americana Freeport.
- Isso (os rumores) vem de analistas ou investidores comprados, ou jornalistas que escutam dizer - disse.