Um dia depois de ter seu nome ratificado em assembleia de acionista como presidente do Conselho de Administração da Petrobras, o presidente da Vale, Murilo Ferreira, afirmou nesta quinta-feira (30) que não vê conflito de interesses em ocupar posições sensíveis em duas empresas que, embora não sejam concorrentes, têm negócios em comum.
Ferreira disse já estar acostumado a lidar com questões de conflito de interesses nas reuniões de Conselho da Vale, que tem entre acionistas o BNDES, o Bradesco, a Previ (fundo de pensão da Petrobras) e a japonesa Mitsui. Essas empresas, explicou, além de terem conselheiros indicados na Vale, possuem negócios independentes da participação na mineradora.
Segundo Ferreira, é “algo contumaz” que durante as deliberações do Conselho surjam matérias em que há conflito de interesses. Nesses casos, disse, os conselheiros indicados por empresas que têm negócios na área discutida se retiram da reunião “sem nem precisar que o presidente do Conselho peça”.
O presidente da Vale teve que assinar um documento com a Petrobras comprometendo-se a se abster em deliberações sobre negócios que envolvam as duas companhias.
“Eu quero mencionar uma prática saudável que acontece na Vale. Não existe nem a solicitação do presidente do Conselho de Administração para que alguém se retire. Na hora em que entre alguma matéria de financiamento, antes de que ele se mova, os representantes do bancos se retiram imediatamente. É uma situação de grande disciplina e eu não vejo que possa incorrer em problemas”, disse ele, que participou de teleconferência com jornalistas, na tarde desta quinta-feira (30).
Conflito
O consultor jurídico da Vale, Clóvis Torres, afirmou que há neste momento apenas uma matéria em que possa surgir conflito de interesses com a Petrobras: uma mina de potássio em Sergipe. Os direitos de exploração da mina são de propriedade da Petrobras, que arrendou a operação para Vale em 1992.
Em 2012, o contrato foi renovado por mais 30 anos e a mineradora começou um processo de expansão da produção. O potássio é a matéria prima para a produção de fertilizantes.
“Esse contrato prevê obrigação entre ambas as partes. Só haveria algum tipo de voto nesse sentido se as partes quiserem mudar esse contrato. Então, na possibilidade de mudança desse contrato e a necessidade de algum voto, haveria sempre uma abstenção ai que Murilo certamente utilizaria. Mas não estamos vendo nenhum tipo de conflito para que Murilo possa assumir essa posição no Conselho de Administração da Petrobras”, afirmou Torres.