A Grécia ficou paralisada, nesta quarta-feira, por causa de uma greve geral nacional, em protesto contra as medidas de austeridade que o governo pretende aprovar para ter acesso a um empréstimo de 110 bilhões de euros da União Europeia-FMI. Houve confrontos em Atenas entre manifestantes e policiais e os transportes aéreo e terrestre estão congelados. Segundo os bombeiros, pelo menos três pessoas morreram em um incêndio em uma agência bancária de Atenas, onde 20 ficaram presos pelas chamas, após a agência ter sido atingida por coquetel molotov. Manifestantes lançaram vários coquetéis molotov contra policiais e em edifícios, provocando incêndio também em dois edifícios públicos em Atenas.
O presidente da Grécia, Carolos Papoulias, disse nesta quarta-feira (5) que o país "atingiu a beira do abismo" na medida em que a violência durante os protestos contra as medidas de austeridade deixaram três pessoas mortas. "É responsabilidade de todos nós não cairmos no vácuo", disse Papoulias em comunicado. "O que está em jogo nos próximos dias é a manutenção da coesão e da paz social."
"Eu posso confirmar que três pessoas foram mortas no Banco Marfin, no centro de Atenas, na rua Stadiou, como resultado de um incêndio", afirmou o oficial de polícia Panagiotis Papapetropoulos. "O prédio foi esvaziado e o restante dos funcionários está a salvo. A investigação está apenas começando, portanto não tenho mais detalhes."
Segundo funcionários do corpo de bombeiros, dois homens e uma mulher morreram asfixiados pela fumaça das chamas. Quatro feridos foram levados a hospitais.
A polícia convocou todos os agentes de folga para lidar com a violência. "Nós fizemos cerca de seis prisões e levamos cerca de 20 pessoas para interrogatório, mas esse número pode aumentar pois a situação está instável", disse Papapetropoulos. Ele contou que houve oito incêndios em prédios do governo e bancos, todos "em grande parte controlados".
O primeiro-ministro grego, George Papandreou, condenou a violência da quarta-feira. "Todos têm o direito de protestar", disse ele em comunicado ao Parlamento. "Mas ninguém tem o direito de usar a violência, especialmente a violência que leva à morte de nossos compatriotas."
Papandreou disse que convocará uma reunião com dirigentes partidários da oposição para discutir a violência e as medidas de austeridade.
Milhões de trabalhadores participam da greve, convocada pelas duas maiores centrais sindicais da Grécia, a GSEE, que representa trabalhadores do setor privado, e a ADEDY, do setor público. Há forte descontentamento dos trabalhadores com as medidas anunciadas pelo governo.
O sindicato dos bancários da Grécia, OTOE, informou que realizará uma greve de 24 horas na quinta-feira em homenagem aos três funcionários do setor bancário mortos nesta quarta-feira. "Os trágicos eventos que tiraram a vida de três colegas são uma consequência triste das impopulares medidas que levaram à insurgência da raiva popular e ao protesto de centenas de milhares de trabalhadores", afirmou o OTOE em comunicado.
Todos os voos para o país e partindo dele foram cancelados, por causa de uma paralisação dos controladores de tráfego aéreo. As operações ferroviárias e o transporte por ferry também foram suspensos. A Acrópole e outros locais históricos permaneceram fechados.
Houve confrontos entre manifestantes e a polícia em Tessalonica, no norte, e em Atenas. Na capital, manifestantes gritando "ladrões, ladrões" tentaram invadir o Parlamento. A polícia antidistúrbio respondeu com gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral. Em Atenas, reuniram-se 60 mil pessoas, segundo os organizadores. Funcionários do governo estimam os manifestantes em 25 mil. Em comunicado, o presidente da GSEE, Yannis Panagopoulos, convocou trabalhadores, aposentados e jovens a resistir duramente às "medidas duras e antissociais".
A situação é vista como uma importante prova para a habilidade do governo de impor um duro plano com medidas de austeridade, em troca de um multibilionário pacote de ajuda econômica. No domingo, o governo grego concordou com um programa de três anos prevendo reformas e medidas de austeridade. Em troca, o país deve receber um pacote de 110 bilhões de euros da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Enfrentando crescentes custos para obter empréstimos e com um pagamento de dívida previsto para o dia 19 deste mês, o governo luta para aprovar as reformas. O Parlamento grego deve votar na quinta-feira tais medidas. O governo, porém, enfrenta a resistência dos sindicatos. Na noite de terça-feira, o Nova Democracia, principal partido da oposição, anunciou que se oporá às reformas, segundo o líder da sigla, Antonis Samaras.
A greve afeta os serviços públicos por todo o país, fechando ministérios e escritórios públicos. Os hospitais e outras instalações públicas operam em esquema emergencial. Os lojistas aderiram ao dia de greve a partir das 12h (hora local). Jornalistas, bancários, professores, funcionários de cortes, advogados e médicos também cruzaram os braços nesta quarta-feira
No âmbito do acordo com a UE e o FMI, o governo grego anunciou no domingo um plano de medidas de austeridade de 30 bilhões de euros. A intenção é cortar benefícios do setor público, pensões, congelar os salários dos setores público e privado e liberalizar as leis trabalhistas. A Grécia se comprometeu ainda a aumentar impostos, incluindo uma elevação de 2 pontos percentuais no imposto sobre bens de luxo, que subiria para 23%, e aumentos nos impostos sobre combustível, tabaco e álcool. O novo imposto sobre bens de luxo entraria em vigor em 1º de julho, enquanto o aumento nas taxas sobre combustível, tabaco e álcool valeria imediatamente.
Analistas notam, porém, que apesar da oposição, o governo socialista tem pouca margem de manobra e deve pressionar pelas reformas, e a maioria dos gregos reconhece isso. "Os protestos têm um caráter simbólico e expressam o temor das pessoas diante dos sacrifícios pela frente", disse George Sefertzis, um comentarista político independente que trabalha na consultoria Evresis, em Atenas. "Certamente, há um sentimento de que essas medidas são injustas, mas também de que elas são inevitáveis. O problema agora é a implementação."
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