Quem deseja comprar um imóvel ou carro, mas não tem condições de pagar à vista, navega num mar de dúvidas quando precisa decidir que modalidade escolher para a compra: consórcio ou financiamento. A pressa, nestes casos, é critério de desempate. Entre as várias diferenças que as duas modalidades de aquisição de bens têm, a que mais se destaca é a escolha entre pagar mais caro para ter logo em mãos o objeto de desejo ou "apostar" no sorteio do prêmio.
Enquanto o financiamento tem o peso dos juros, de 12% ao ano para imóveis, o que pesa no consórcio é a incerteza. "O consórcio é para quem tem tempo para aguardar na fila, porque o sorteio é algo imprevisível. Os azarados vão em-prestar sem juros para os sortudos que receberem a carta de crédito primeiro", lembra o economista da Universidade Federal do Paraná, Mauro Halfeld, autor do livro "Seu Imóvel: Como comprar bem".
"No consórcio, não há imediatismo. Para quem vai precisar de um imóvel ou de um carro no prazo de um ano, existe a possibilidade de dar lances fixos, geralmente estabelecido em 20% do total contratado. Mas não podemos dar certeza de que a pessoa vai conseguir retirar a carta de crédito no prazo esperado", explica o presidente da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcio (Abac) no Paraná, Reinaldo Bertini.
Pelo lance fixo, os participantes interessados se inscrevem e participam de um segundo sorteio, além do de rotina. O consórcio ainda inclui o lance livre, onde ganha quem tem mais dinheiro para oferecer. Há casos de quem se arrisca e acaba se dando bem, como a empresária Elizandra Rocha Machado, de 32 anos, que resolveu assumir a prestação de um consórcio enquanto pagava o financiamento de um apartamento. "A gente (ela e o marido) fez sem pressa. Ficamos sete meses dando lances fixos e, no dia do meu aniversário, fui sorteada. Mudamos para um sobrado três vezes maior, vendemos o apartamento em que morávamos e, em cinco anos, não teremos mais dívida com o imóvel", conta.
O perfil do participante de consórcio, diz Bertini, normalmente é o da pessoa que já tem o bem e pretende trocar por um melhor. "É aquela pessoa que faz a compra de forma programada. A maior proporção é de pessoas que vão utilizar o dinheiro para troca e para um segundo imóvel ou carro. Há também quem escolha um consórcio para ter uma casa na praia ou comprar um bem para um filho."
Para o professor Ricardo Humberto Rocha, do Laboratório de Finanças da Universidade de São Paulo (LabFin), quem opta pelo consórcio escolhe pagar para poupar. "Como forma de disciplina, a pessoa paga para fazer uma poupança, mas, ao invés de receber o rendimento, ela paga uma taxa de administração", diz ele. Quem quer o bem de imediato e não tem dinheiro, recomenda Rocha, deve optar pelo financiamento. "Os juros do financiamento caíram e os prazos estão aumentando. Quem precisa do bem não deve olhar o gasto total ao comparar consórcio e financiamento. São duas modalidades completamente diferentes", destaca.