Para BC, ajuste fiscal vai derrubar o IPCA
A política fiscal mais rigorosa ajudará o Banco Central no esforço de levar a inflação de volta à meta. A afirmação foi feita ontem pelo presidente do BC, Alexandre Tombini. Ao ressaltar a complementaridade das políticas monetária e fiscal, ele admite que as medidas recentes anunciadas pela equipe econômica devem elevar ainda mais a inflação no curto prazo. O rigor fiscal, porém, tira um peso das costas do BC ao colaborar com o trabalho de estabilidade de preços em horizonte mais amplo.
"As políticas fiscal e monetária são independentes, mas elas têm complementaridade. Naturalmente, uma política fiscal consistente implementada de maneira rigorosa acaba por ajudar no processo de convergência da inflação para a meta", disse, durante entrevista no Fórum Econômico Mundial em Davos.
Após meses de direções opostas das políticas fiscal (expansionista) e monetária (restritiva), o discurso sinaliza que a chegada de Joaquim Levy ao Ministério da Fazenda deverá aliviar a carga de trabalho do BC no esforço de conter a inflação. Dias após aumentar o juro para 12,25%, Tombini destacou positivamente a queda das previsões de mercado para a inflação de médio e longo prazos.
A prévia da inflação oficial de janeiro mostrou aceleração, com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15) fechando em 0,89% em janeiro, a maior taxa registrada desde fevereiro de 2011. Em dezembro, o IPCA-15 tinha ficado em 0,79%. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A elevação dos gastos das famílias com alimentação foi responsável por 40% da inflação no mês. Houve pressão, principalmente, das carnes, batata-inglesa e feijão. Mas pesaram também os aumentos na energia elétrica e no ônibus urbano. O índice só não foi mais alto porque as passagens aéreas deram trégua, com redução de 4,21%, após o salto de 42,42% visto no mês anterior.
Embora a magnitude da inflação não tenha surpreendido, os aumentos de preços foram mais disseminados do que o previsto, atentou o professor Luiz Roberto Cunha, decano da PUC-Rio. A taxa de difusão, que mostra o porcentual de itens pesquisados com aumento de preços, subiu de 64,4% no IPCA-15 de dezembro para 69,9% em janeiro, de acordo com os cálculos da Rosenberg Consultores Associados.
"Os serviços como um todo vieram muito altos, o que preocupa, até porque o item passagens aéreas, que geralmente impulsiona a inflação de serviços, dessa vez veio com queda na tarifa. Então não foi só um aumento específico dos preços administrados que pressionou o IPCA-15", ressaltou Cunha.
Previsão difícil
O decano da PUC diz que o momento atual de inflação alta aliada a uma atividade fraca resulta num cenário ruim que dificulta as previsões para 2015. O professor espera que o IPCA fechado do mês de janeiro fique entre 1,2% e 1,3%, e que a taxa acumulada em 12 meses rode acima de 7% ao longo do primeiro quadrimestre.
"As bandeiras tarifárias (que repassam à conta de energia o custo mais alto do acionamento das usinas térmicas) ainda não apareceram no IPCA-15 com muita intensidade. A Petrobras ainda vai repassar o aumento do imposto sobre os combustíveis. Então há uma série de pressões de preços administrados a serem corrigidos", lembrou Cunha.
A corretora Concórdia acredita que a inflação deva se manter pressionada também pelo encarecimento dos alimentos, como resultado da entressafra e da estiagem que afeta regiões produtoras. "A tendência é que os preços dos alimentos no atacado e no varejo se mantenham pressionados entre janeiro e fevereiro, mantendo os indicadores de preço em patamar elevado", avaliou Flávio Combat, economista-chefe da Concórdia.
A alta no custo de vida das famílias em janeiro fez o IPCA-15 acumulado em 12 meses estourar novamente o teto de tolerância do governo, de 6,5%. A taxa passou de 6,46% no fechamento de 2014 para 6,69% nesse mês, o maior resultado desde novembro de 2011.
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