Recuo deve forçar queda na Selic
A desaceleração da economia e a inflação sob controle reforçam as expectativas do mercado de nova queda da taxa básica de juros Selic na próxima reunião do Conselho de Política Monetária do Banco Central (Copom), que será realizada nos dias 29 e 30 de maio. Além disso, o governo deve reforçar medidas de estímulo ao crédito.
A projeção é de um corte de 0,75 a 1 ponto porcentual na taxa de juros, hoje em 9% ao ano. A ideia é acelerar a queda dos juros para tentar segurar o consumo, que vinha garantindo o crescimento do PIB brasileiro.
O governo também prepara medidas de estímulo ao crédito para destravar as vendas de automóveis cujos estoques são os maiores desde a crise de 2008 e pode mexer ainda no compulsório, o dinheiro que os bancos têm que deixar depositado no Banco Central.
Na avaliação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, embora o governo venha fazendo esforços para estimular a economia, o crédito oferecido tanto às empresas quanto às pessoas físicas ainda está caro e escasso. Por isso, a ordem é fazer tudo o que for possível para reverter esse quadro.
Segundo os técnicos da Fazenda, o crédito tem capacidade para fazer a atividade reagir rapidamente. Por isso, a estratégia é agir em quatro frentes: reduzir a taxa Selic, o spread bancário (diferença entre o que os bancos pagam para captar dinheiro e o que eles cobram dos clientes em empréstimos), afrouxar regras prudenciais e liberar compulsórios.
Como o BC já está atuando na queda da taxa básica de juros e o governo tem feito uma forte pressão sobre o setor bancário para baixar os spreads, o que falta é agir no compulsório e nas medidas prudenciais.
Entre as ações que estão em estudo está algo que foi feito em 2008 para estimular a economia: baixar o compulsório para que bancos maiores possam comprar carteiras de bancos menores (aumentando a oferta de crédito), ou para que eles mesmos possam emprestar mais à população. (CR, com Agência O Globo)
Selic
9% ao ano é o atual patamar da taxa básica de juros (Selic). Com a perda de dinamismo da economia, há quem espere que essa taxa caia a 8% no fim deste mês.
A economia brasileira encolheu em março. O Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), espécie de prévia do Produto Interno Bruto (PIB), se contraiu 0,35% em março, na comparação com fevereiro, na série com ajuste sazonal. O dado foi divulgado ontem pelo Banco Central, responsável pelo indicador. A retração foi maior do que a projetada pela maioria dos analistas de mercado, que já apostam em uma retomada mais lenta da economia brasileira em 2012. O resultado abaixo do esperado também deve acelerar o ciclo de corte de juros da economia.
Essa foi a terceira queda mensal do indicador, que havia recuado 0,13% em janeiro e 0,23% em fevereiro. No acumulado do primeiro trimestre deste ano, a atividade econômica registrou alta de 0,15% na comparação com o quatro trimestre de 2011. Essa velocidade é menor em relação à que foi vista entre outubro e dezembro passados, quando o indicador mostrou expansão de 0,20% sobre o trimestre anterior. Na comparação com os três primeiros meses do ano passado, a atividade cresceu apenas 1,06%.
"O resultado mostra uma clara perda de dinamismo da economia brasileira, provocada pela perda da competitividade da indústria, a queda na taxa de crescimento do varejo e do consumo, impactado pelo aumento do endividamento e do crédito mais seletivo", diz Luciano D´Agostini, economista do grupo de pesquisa Macroeconomia Estruturalista do Desenvolvimento e professor da FAE Business School.
Para Rafael Bistafa, economista da Rosenberg Consultores Associados, o resultado decepcionou. "Já se esperava uma retração, mas ela veio pior", diz. Segundo ele, seria necessário que a economia tivesse um desempenho muito acima da média no segundo semestre para que o crescimento de 4% a 4,5% que o governo ambiciona pudesse ser alcançado. "Mantivemos nossa projeção de 3% do crescimento do PIB para este ano, mas com viés de baixa. Vamos esperar o resultado oficial do PIB, mas já devemos rever essa previsão", afirma.
Em 2011, o crescimento do PIB foi de 2,7%. A expectativa inicial do governo era de um crescimento de 4,5% para 2012, mas o próprio relatório Focus, do Banco Central, já revisou para baixo essa projeção e agora estima com algo em torno de 3,5%.
O índice do Banco Central incorpora estimativas para a produção nos três setores básicos da economia serviços, indústria e agropecuária. Os dados oficiais sobre o desempenho do PIB no primeiro trimestre serão divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) somente no início de junho.
Para os analistas, o fraco desempenho adia a tão esperada recuperação da economia. Luciano DAgostini, que previa um crescimento de 2,7% para o PIB em 2012, já está refazendo os cálculos. "Provavelmente o crescimento será inferior", diz. Para a MB Associados, o resultado coloca em xeque a esperada retomada a partir do segundo trimestre e, com a piora do cenário internacional, essa recuperação será mais lenta. A consultoria também não descarta um crescimento do PIB até mesmo inferior a 2,7% para 2012.
Governo ainda prevê alta de 4,5% no PIB
Agência O Globo
O governo insiste que o PIB vai crescer 4,5% neste ano, apesar dos sinais de desaceleração na economia. A previsão foi mantida no Relatório de Avaliação Fiscal e Cumprimento de Metas referente ao 2.º bimestre, divulgado ontem pelo Ministério do Planejamento.
Mesmo antes do agravamento da crise internacional desde abril, o Banco Central já era mais moderado do que o governo, porque previa um crescimento de 3,5% do PIB no último "Relatório de Inflação" divulgado no fim de março. Analistas de mercado apostam em um crescimento de 3,20% da economia em 2012.
O Ministério do Planejamento também manteve a projeção para a variação do IPCA em 2012, de 4,70%, enquanto o Banco Central projetou 4,40% em seu último Relatório de Inflação. A estimativa do Ministério do Planejamento para a taxa básica de juros, a Selic, no fim de 2012 foi reduzida para uma média de 9,86% ao longo do ano, enquanto no primeiro bimestre era esperada uma taxa de 11,63%.
Os números do BC criados para balizar as decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) em relação sua política de juros já que os números oficiais do IBGE saem com um grande atraso confirmam um desempenho da economia cada vez mais fraco em relação ao esperado anteriormente.
Apesar de mantida a previsão do Ministério do Planejamento de uma alta de 4,5% no PIB, a equipe econômica já desistiu de fazer o país crescer 4% como o pretendido pela presidente Dilma Rousseff.
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