O IPCA-15, prévia da inflação oficial, registrou alta de 0,31% em setembro, acelerando frente à deflação de 0,05% verificada em agosto, de acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados ontem.
De janeiro a setembro, o índice acumula elevação de 3,53%. Nos últimos 12 meses terminados em setembro, o IPCA-15 tem incremento de 4,57%, ante 4,44% observados no período imediatamente anterior.
Os preços dos alimentos voltaram a ficar mais caros e foram decisivos para o resultado. Esses itens tiveram alta de 0,30%, contribuindo com 0,07 ponto porcentual no índice. Nos meses anteriores, os produtos alimentícios estavam em queda (-0,68% em agosto, e -0,80% em julho). As carnes exerceram maior pressão e ficaram 3,40% mais caras.
Análise
A alta surpreendeu surpreendeu a economista Tatiana Pinheiro, do Banco Santander. "Esperávamos aceleração, mas imaginávamos número mais alto no fechamento do mês", disse. A projeção do banco para o IPCA-15 era de 0,23%. "Todo mundo tinha uma certa insegurança com relação ao aparecimento da pressão de demanda", disse Tatiana, acrescentando que a sequência recente de dados de inflação abaixo do esperado havia alimentado uma postura mais cautelosa entre os analistas.
Mas esse descompasso entre demanda e oferta já deu sinais no IPCA-15 de setembro, já que houve pressões disseminadas entre os diversos grupos que compõem o indicador, avalia Tatiana. Ela chamou atenção para a aceleração em grupos como Transporte, de 0,02% no IPCA-15 de agosto para 0,33% agora; Vestuário, de -0,09% para 0,50%; e Saúde e cuidados pessoais, de 0,13% para 0,40%. Mesmo a alta de 0,14% registrada por Educação surpreendeu a analista. "A expectativa era de algo mais perto da estabilidade", disse, explicando que a sazonalidade dos reajustes de mensalidades concentra-se em agosto.
A projeção de 5,5% do Santander para o IPCA este ano provavelmente não mudará, mas a de 5% para 2011 pode sofrer elevação, afirmou a economista. A possibilidade de que a Selic seja mantida em 10,75% ao longo do ano que vem, afirmou, significa um incentivo para a atividade econômica. "A atividade econômica aquecida, combinada com um cenário pressionado de commodities, faz com que o risco de inflação em 2011 seja para cima."
Normalidade
Já o economista-chefe da Máxima Asset Management, Elson Teles, avalia que a alta de 0,31% reflete, principalmente, a volta à normalidade do grupo Alimentação, que vinha de várias medições em deflação, e não sinaliza uma aceleração descontrolada da inflação nos próximos meses. "Depois de três meses com deflação forte, é natural que Alimentação acelere ao longo das próximas medições", explicou Teles. "Mas os números não vão fugir muito disso e continuamos vendo a inflação bem comportada." A estimativa da Máxima para o IPCA-15 de setembro era de 0,28%.
Segundo o economista, o pico de alta do grupo Alimentação pode chegar a 1%, provavelmente em outubro.
O cenário não justifica uma guinada de atitude por parte do Banco Central, diz Teles. "O comportamento da inflação está dentro do esperado e a aceleração ocorre para níveis normais. Não é nada muito longe do que o BC trabalha agora", afirmou ele, lembrando que o relatório de inflação, que será divulgado ao final deste mês, trará as projeções atualizadas do BC para a inflação ao final deste ano.