Considerada positiva por seus múltiplos efeitos na economia – desde empréstimos mais baratos à redução da dívida pública –, a nova taxa de juros corre o risco de ser um obstáculo a mais para quem adquiriu um plano de previdência privada. Para receber o valor esperado lá na frente, no momento da aposentadoria, o poupador pode ter de rever os planos – e arriscar mais.
Um estudo da consultoria Mercer divulgado no final de julho lançou o alerta. O efeito combinado da reforma da Previdência, aprovada no fim do ano passado, com o atual cenário de juros baixos pode afetar em até 15% a renda da aposentadoria.
A pesquisa estima que a revisão da regra do cálculo do benefício da Previdência Social pode custar ao aposentado até 3% de sua renda. E a taxa Selic, que está no mínimo histórico de 2%, pode provocar uma queda de até 12% no valor da aposentadoria ao achatar os ganhos de investimentos em renda fixa, onde está aplicado quase 80% do patrimônio da previdência privada.
“A queda da Selic é salutar para a economia como um todo, mas esse novo cenário obriga o investidor a ser mais protagonista, mais agressivo em suas escolhas financeiras, e a diversificar mais a carteira. Por outro lado, entidades de previdência complementar e fundos de pensão devem buscar produtos financeiros mais de risco para garantir a rentabilidade”, afirma Maurício Martinelli, executivo da Mercer.
Os novos requisitos previdenciários – que elevaram idade, tempo de contribuição e revisaram o cálculo do benefício – estão empurrando parte da classe média para a previdência privada. Dados do Relatório Gerencial de Previdência Complementar, do Ministério da Economia, apontam que, de 2018 para 2019, 350 mil brasileiros contrataram planos particulares.
Mas, diante do inédito cenário de juros baixos, o futuro aposentado pode ter uma amarga surpresa lá na frente se não se adequar à nova realidade.
O estudo da Mercer calcula que o investidor deveria dobrar sua contribuição mensal para garantir a aposentadoria esperada, mas reconhece que isso é inviável para a maioria dos brasileiros, ainda mais nesse momento de incerteza econômica provocada pela pandemia do novo coronavírus.
Pesquisa realizada no fim de maio pelo Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV) revela que quase 64% dos entrevistados tiveram perdas na renda desde o início da crise e que 42% das pessoas resgataram investimentos para cobrir despesas do dia a dia.
Para contornar o obstáculo e garantir que o futuro aposentado receba o retorno desejado, seguradoras e fundos de pensão terão de adaptar suas carteiras de investimento.
“A ideia é que esses fundos busquem alternativas de investimentos que vão render mais e com esse rendimento garantam a aposentadoria dos cotistas”, explica Claudia Yoshinaga, professora de finanças da FGV.
Ainda que tímido, esse movimento já começou e deve se intensificar no futuro. Para compensar a queda no retorno dos investimentos em renda fixa, os investimentos da previdência complementar em renda variável aumentaram de R$ 28,7 bilhões para R$ 32,3 bilhões entre dezembro de 2019 e abril deste ano , segundo relatório do Ministério da Economia.
Atualmente, os investimentos da previdência complementar somam R$ 1,9 trilhão, sendo 77% aplicados em renda fixa, 10% em renda variável e 10% em fundos multimercado. O restante 3% são investimentos estruturados e em imóveis, entre outros.
Previdência aberta versus fundos de pensão
A previdência complementar é dividida em aberta e fechada. A primeira pode ser adquirida por qualquer pessoa, física ou jurídica, por meio de bancos ou seguradoras. A segunda engloba os planos criados por empresas exclusivamente para seus funcionários – os fundos de pensão.
Enquanto na previdência aberta o investidor tem mais liberdade de escolher o melhor plano para si e fazer os ajustes necessários para garantir a rentabilidade, na previdência fechada a carteira é controlada pelos gestores do fundo de pensão.
Apesar da busca por investimentos mais rentáveis e, por consequência, de maior risco, o sistema é sólido, de acordo com Luis Ricardo Martins, presidente da Abrapp, associação que representa 258 fundos de pensão.
“Oscilações pontuais não afetam investimentos de longo prazo, às vezes de 40 ou 50 anos. Os fundos estão diversificando e correndo mais risco para conseguir um retorno maior, mas sempre monitorando esse risco”, garante.
Até dezembro de 2019, os brasileiros com planos de previdência complementar eram 16,5 milhões, 2% a mais que no ano anterior (16,1 milhões) e 38% acima do número do início da década (eram 12 milhões em 2011). O contingente, no entanto, também já foi maior: em 2017, eram 16,9 milhões de investidores. Anualmente, a previdência privada desembolsa cerca de R$ 68 bilhões em benefícios.
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