| Foto:

diversificação

"Acabou a moleza para os fundos de pensão", diz economista

Fernando Jasper

O ciclo de redução da taxa básica de juros – que desde julho de 2011 caiu de 12,5% para 8% ao ano – e o aumento da segurança para investir no Brasil acabaram com a "moleza" na administração dos fundos de pensão do país. Acostumados aos polpudos retornos da renda fixa, em especial dos títulos públicos, os gestores encaram o desafio de buscar aplicações mais rentáveis sem descuidar da segurança – afinal, eles têm a missão de assegurar a previdência de mais de 2,3 milhões de brasileiros.

"Acabou a moleza de investir 80% da carteira em NTN-B [modalidade de títulos públicos indexados ao IPCA] e estamos conversados. Esse ainda é um ótimo investimento, mas, sozinho, já não bate a meta. Os fundos terão de diversificar suas aplicações", resumiu o ex-presidente do BNDES Luiz Carlos Mendonça de Barros, hoje estrategista-chefe da Quest Investimentos. Ele deu ontem uma palestra na Fundação Copel, em Curitiba.

Os fundos brasileiros investem em média três quartos de seus recursos na renda fixa. E a maioria persegue uma meta atuarial (que garante o equilíbrio entre arrecadação e pagamento de benefícios) de inflação mais 6% ao ano, considerada alta demais no atual cenário econômico. Alcançá-la apenas com base em títulos públicos será virtualmente impossível: os títulos NTN-B leiloados recentemente pelo governo vão pagar menos de 5% ao ano em juros reais (acima da inflação); há sete anos, esses papéis ofereciam 9% ou 10%.

"A expectativa é de que a meta atuarial seja reduzida para inflação mais 5%. Temos superávit para suportar essa redução. Mas de qualquer forma devemos nos encaminhar para, nos próximos anos, reduzir a fração da renda fixa a 60% dos nossos investimentos", disse Hélio Pizzatto, presidente da Fundação Copel, a maior da Região Sul. O plano da fundação que recebe novas adesões tinha, ao fim de 2011, 79% dos recursos aplicados em renda fixa.

Projeção

Para Mendonça de Barros, o juro real da economia brasileira ficará perto de 2% em 2013, e não mais que isso na sequência. Ele projeta que, até 2020, a dívida pública líquida cairá dos atuais 35% para 18% do Produto Interno Bruto (PIB). "Os títulos do governo entrarão para o nível de alta qualidade, com nota A ou AA, o que reduzirá ainda mais os juros."

Ao mesmo tempo em que reduz a atratividade dos títulos públicos, a queda do juro estimula o investimento privado, lembrou o economista. Por isso, um caminho para as fundações é investir mais em ações e fundos de renda variável atrelados à atividade empresarial.

CARREGANDO :)

VGBL

Os planos do tipo VGBL tiveram maior expansão no primeiro semestre deste ano: 38,24%. Com isso, a arrecadação atingiu R$ 28 bilhões no período. Já os planos do tipo PGBL tiveram um crescimento um pouco mais modesto. As contribuições somaram R$ 3,2 bilhões, o que representa um aumento de 8,5% em relação aos primeiros seis meses de 2011.

O mercado de previdência privada aberta fechou o primeiro semestre de 2012 com crescimento de 32% da sua arrecadação, atingindo um total de aportes de R$ 33 bilhões, de acordo com dados da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi) divulgados ontem durante o VI Fórum Nacional de Seguro de Vida e Previdência Privada. De acordo com a entidade, a expectativa é de que no segundo semestre outros R$ 30 bilhões sejam arrecadados pelos bancos e seguradoras, ultrapassando a marca dos R$ 330 bilhões investidos em carteira até o final do ano.

Publicidade

De acordo com o vice-presidente da FenaPrevi, Osvaldo Nascimento, o crescimento é resultado das realocações de recursos anteriormente investidos em renda fixa e fundos DI para carteiras variadas de previdência privada. "Com juros baixos, os investimentos a longo prazo ganharam espaço. Viver de renda a curto prazo é algo que não existe mais. A concepção agora é de longevidade", explica Nascimento. Os dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima) confirmam esta tese: nos dez primeiros dias de agosto, os fundos de renda fixa registraram R$ 2,6 bilhões mais saques do que depósitos.

Os poupadores individuais foram responsáveis por R$ 28,6 bilhões do investido no período, enquanto os planos empresariais foram responsáveis por R$ 3,4 bilhões do total arrecadado pelas instituições financeiras. Os planos para menores de 18 anos somaram R$ 960 milhões.

O diretor-executivo da Bradesco Vida e Previdência, Lúcio Flávio Oliveira, explica que os planos de previdência estão deixando de ter o caráter de complementação de renda para o futuro e passaram a ser alternativas de poupança. "É um fundo educativo para o poupador, que precisa se condicionar a guardar mensalmente uma parcela dos seus rendimentos para um retorno futuro. Este dinheiro não é usado somente para complementar a previdência social, mas para adquirir um bem, assumir uma prestação ou pagar a faculdade de um filho", explica.

Além da mudança dos objetivos dos investidores em previdência, o vice-presidente da Fenaprevi destaca o aumento da renda média do brasileiro como motivo para o constante aumento nos depósitos das carteiras. "Com folga no orçamento, a pessoa passa a ter condições de abrir uma carteira de previdêncioa ou a depositar valores maiores", afirma.

Perfil

Publicidade

Entre os produtos oferecidos pelas instituições, os planos VGBL tiveram expansão de 38,24%, com arrecadação de R$ 28 bilhões. Os PGBL somaram contribuições de R$ 3,2 bilhões no primeiro semestre, com aumento de 8,5% frente a igual período de 2011.

Já a distribuição dos planos por faixa etária está cada vez mais homogênea: 28,6% dos planos correspondem a titulares com mais de 50 anos, enquanto os investidores de 40 a 50 anos totalizam 23% e os de 30 a 40 representam 25,7% do total. "Há dez anos a idade média era muito superior. Hoje as empresas vêem cada vez mais jovens aplicando em previdência", completa Nascimento.

No que diz respeito à indústria de seguros de pessoas, o primeiro semestre fechou com R$ 10,5 bilhões em prêmios emitidos, um crescimento de 13,77% frente ao mesmo semestre de 2011.