A prisão do presidente da Federação Paranaense de Futebol (FPF), Onaireves Rolim de Moura, na segunda-feira acusado de sonegação fiscal, falsidade ideológica e formação de quadrilha deixou inseguros alguns dos mais de 200 investidores da Top Avestruz. Apesar de a mais recente prisão do ex-deputado não ter relação alguma com as atividades da Top, e sim com duas casas de bingo em Ponta Grossa, pertencentes a Moura, o fato fez aumentar o temor de quem ainda não conseguiu resgatar o que investiu na empresa de avestruzes.
A Top Avestruz teve as suas atividades suspensas em 30 de abril do ano passado, a pedido do promotor Alberto Camiña, do Ministério Público de São Paulo. Camiña constatou irregularidades, como a falta de registro na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que regula a atividade.
A Gazeta do Povo ouviu três investidores da Top que já tiveram seus contratos vencidos e ainda não conseguiram receber. Eles não quiseram se identificar pois ainda têm esperança de conseguir um acordo com a empresa.
Em agosto de 2004, Wilson (nome fictício), jovem empresário de São Paulo, mudou-se para Curitiba procurando oportunidades de trabalho e investimentos. Conheceu Onaireves Moura, na época no auge da divulgação de seu novo negócio. Seduzido pela alta lucratividade oferecida pela Top, Wilson fechou três contratos com a empresa. No primeiro deles, investiu pouco mais de R$ 7 mil. O valor se referia à compra de um macho e duas femêas e ao serviço de hospedagem dos animais pelo período de um ano, com vencimento em setembro de 2005.
No contrato, três opções são oferecidas ao investidor a partir do vencimento: a recompra das aves por um valor pré-fixado, o dobro do investido, o resgate das aves ou a renovação da hospedagem por mais um ano. A "mágica" do rendimento oferecido pela Top, de 100% em um ano, seria possível, segundo Moura, pois a Top venderia carne, plumas, couro e bico dos filhotes do trio a bons preços. Sete meses após o vencimento do primeiro contrato, Wilson ainda não recebeu o dinheiro e nunca viu seus animais.
Situação semelhante viveu João (nome fictício), também de São Paulo, que investiu R$ 120 mil. "Moura me passou credibilidade, por ser uma pessoa conhecida, um homem público." O contrato de João leva ainda um seguro, pela Mutual Seguros. " A seguradora não quer me pagar pois alega que a empresa de Moura não tem o registro na CVM", diz.
Hoje Moura alega a seus investidores que não tem como recomprar os animais em função da liminar, "que o impede de fechar o ciclo do avestruz". Procurado pela reportagem da Gazeta do Povo antes de ser preso, o empresário confirmou que não tem como cumprir a cláusula da recompra dos animais, mas disse que oferece outras opções, como venda a terceiros ou renovação dos contratos de hospedagem. "Eu posso garantir que os animais estão bem e que ninguém vai ficar sem receber", disse.
Para Pedro (nome fictício), que investiu R$ 20 mil, a verdade é que Moura deixou de receber novos investimentos e, agora que a fonte "secou", não tem como honrar seus compromissos.
Há pouco mais de um mês, Pedro pediu para visitar os seus animais e não teve, até ontem, resposta de onde estão localizados. "Acho que vou ter de ir até uma das propriedades e sair com avestruzes debaixo do braço."
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