Haja sushi para tanta gente! E haja fome para tanto sushi! O tradicional "arroz enroladinho em alga" ganhou de vez a simpatia do curitibano que hoje aprecia a culinária japonesa não só no restaurante, mas também em casa. E como fazer um bom sushi não é pra qualquer um, o hábito abriu mercado para uma série de fornecedores que entregam o produto pronto em lojas especializadas, principalmente no Mercado Municipal de Curitiba o mais oriental do Brasil , e também nas feiras gastronômicas.
Além do sushi, figuram por lá outros quitutes como o manju (bolinho doce recheado com feijão), moti (bolo de arroz), bentô (uma espécie de marmitex japonês, com sushi, legumes, carne, conservas e arroz) e outros. Para se tornarem fornecedores, alguns descendentes de japoneses uniram, basicamente, três ingredientes: conhecimento sobre a gastronomia japonesa, talento e trabalho árduo.
O manju e o moti são fabricados, em Curitiba, pela Indústria de Alimentos Abe, a maior da cidade, que também produz sushi e bentô . A empresa foi fundada há dez anos pelas irmãs Emília e Júlia Abe, e tem dado bons resultados. "Trabalhamos de segunda a segunda. É todo dia, de manhã, tarde e noite", conta Emília.
A produção semanal de 500 bandejas de bentô, 600 pacotes de manju e 200 rolos de sushi consome o trabalho de seis pessoas durante a semana (além das duas irmãs e da mãe, a Abe tem três funcionários contratados), numa fábrica artesanal no Jardim das Américas. De sexta para sábado a produção aumenta, e são contratados mais três ajudantes.Ainda assim, a empresa conserva o caráter familiar de quando as irmãs começaram a produção com os pais, que vieram de Maringá. "Tudo é na mão, tudo é uma arte. Tem que enrolar, carimbar, pintar...", explica a sócia Júlia Abe.
Perto dali, em sua casa no Uberaba, Nori Hamasaki, aos 70 anos, trabalha sozinha na produção de sushi e bentô da marca Noritian. Ela foi a primeira, há 11 anos, a fornecer o alimento neste formato, a pedido de Rosa Honjo, proprietária da Bonsai, no Municipal. "Há uns seis ou sete anos, vendia bastante. No começo eu nem conseguia fazer tudo sozinha. Agora entrou muito concorrente", conta dona Nori, que todos os dias toma um táxi até o centro de Curitiba para entregar os produtos.
Ela prepara cerca de 100 rolos de sushi durante a semana, e mais 130 no sábado e domingo, quando precisa da ajuda de uma sobrinha. O segredo para sobreviver no mercado está no tempero. "O meu sushi é só meu. Só eu faço aquele tempero, e tem gente que vai lá há anos e só quer o meu. Ainda bem. Se fosse tudo igual, eu não sei como seria para trabalhar."
Opinião semelhante tem Marisa Oba, conhecida por fazer "o sushi mais japonês" entre os disponíveis no Municipal. "O meu não agrada tanto os brasileiros. Mas o pessoal que vem do Japão gosta muito", conta dona Marisa, cujo tempero é mais "adocicado". O segredo está no uso de ingredientes típicos, como o gobô (bardana), kombu (alga marinha), kampyo (espécie de melão) e omelete doce.
Estes produtos de nome complicado são encontrados facilmente no Mercado Municipal, que alimenta a produção de sushi em Curitiba. Aquela alga escura que envolve os rolinhos, chamada de norí, desembarca em gigantescas caixas no Porto de Santos, no litoral paulista. Dona Nori Hamasaki, que produz a marca Noritian, conta que costuma comprar a alga coreana, que é mais barata. Ela precisa de umas 300 folhas por semana, além de uns 450 quilos de arroz.
Marisa Oba prefere o norí japonês. "Acho que vale a pena pagar um pouco mais caro porque é melhor para trabalhar e para comer." Mas o que pode parecer uma alfinetada na concorrência é, na verdade, mera expressão da preferência pessoal. Neste ramo, a competição é bastante cordial. Oba elogia as irmãs Abe. "Eu gosto muito do manju da Abe. Elas fazem muito caprichado." Dona Nori, a precursora, também não reclama dos novos fornecedores. "Para mim está bom assim. Eu já estou quase aposentada."
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