Curitiba Até 2013, pelo menos 5% do diesel utilizado no Brasil deve ter origem em fontes renováveis, alternativas ao petróleo. Atualmente, a lei obriga que no mínimo 2% do chamado biodiesel seja adicionado ao combustível tradicional. A mudança, aliada à chegada ao mercado dos carros bicombustíveis e ao aumento do preço internacional do petróleo, abre novas perspectivas para o setor de biocombustíveis (álcool e biodiesel). Para o Paraná, em especial, o cenário amplia o mercado para produtores e fornecedores da cadeia canavieira.
O estado, responsável pela colheita de 28 milhões de toneladas de cana-de-açúcar este ano, é o segundo maior produtor do país, atrás apenas de São Paulo. Segundo estimativa apresentada ontem no Workshop Freisuco Biocombustíveis/Paraná que antecede Feira Internacional do Setor Sucroalcooleiro (Freisuco) marcada para novembro para atender a esse aumento da demanda, a produção nacional de álcool deve passar de 16,7 bilhões de litros para até 30 bilhões nos próximos cinco anos.
Segundo o presidente do Comitê de Agroenergia e Biocombustível (CAB), Maurílio Biagi Filho, como consequência desse aumento, mais 3 milhões de hectares de cana devem ser plantados no país. Hoje são cultivados 6 milhões de hectares. "Boa parte dessa nova produção deve ficar em São Paulo, Paraná e Minas Gerais e substituir áreas de pastagens pouco aproveitadas", diz. "O Brasil tem domínio total da tecnologia para a produção do combustível."
De acordo com o presidente, pelo menos 40 novas usinas de cana-de-açúcar estão em processo de instalação no país. Dessas, três devem ser instaladas no Paraná nas regiões de Terra Rica, Paraíso e Colorado. De acordo com o presidente do CAB, a produção do biocombustível a partir da cana-de-açúcar significa vantagem em relação às demais formas porque o sistema gera toda a energia necessária para movimentá-lo (com o bagaço) e envolve mais de 300 segmentos da economia.
O secretário de Estado da Agricultura, Orlando Pessuti, também participou do evento e disse que o governo estadual está atento ao aumento mundial do consumo de biocombustíveis. "Estamos criando incentivos para o setor sucroalcooleiro e buscando também alternativas para a agricultura familiar de girassol e nabo através do Programa Paraná Bioenergia."
Alternativas
Para o presidente do Projeto Biodiesel Brasil, Miguel Dabdoub, o país precisa acelerar o processo de implantação do biocombustível como um todo, não apenas através da cana. "O álcool tem papel importante para o país já que foi possível combinar com eficiência a produção de açúcar. Mas o Brasil pode também acertar a produção de vegetais, óleos, farelos e diesel com outras matérias-primas e gerar energia mais eficiente." O biodiesel pode ser produzido a partir de oleagenosas como dendê (palma), girassol, mamona, soja e amendoim.
Segundo Dabdoub, para isso o país deve avançar em questões tributárias e comerciais do segmento. Ele cita, por exemplo, os Estados Unidos e a Alemanha, onde o governo oferece subsídios para equilibrar os preços e incentivar o consumo do biodiesel. Em maio, o presidente Lula sancionou uma lei para isentar de PIS e Cofins a produção familiar voltada para o biodiesel nas regiões Norte e Nordeste. "Assim será possível complementar nossa matriz energética e diminuir a dependência do petróleo", diz Dabdoub. "Além disso, a demanda deve ser grande, e o empresariado precisa discutir as formas de investimento", completa.