O estrago provocado pela alta no preço dos fertilizantes será ainda maior do que a simples redução na área do milho de verão, cultura em que o gasto com insumos pode ser três vezes superior ao da soja, por exemplo. Essa tendência ganha força no primeiro levantamento de intenção de plantio da safra 2008/09, divulgado ontem pela Companhia Nacional do Abastecimento (Conab), que já admite uma queda na produção de grãos, apesar da ampliação da área total de cultivo.
Na previsão mais otimista, o volume a ser produzido tem potencial para atingir 144,55 milhões de toneladas, apenas 0,5% superior ao registrado no ciclo anterior. Se o resultado considerar o intervalo inferior, o desempenho pode recuar até 1,2%, para 142,03 milhões de toneladas, 1,79 milhão de toneladas a menos que no exercício 2007/08.
Os números revelam que o produtor investe menos em tecnologia, uma vez que a área mantém uma margem positiva, com incremento entre 1,2% e 2,7% sobre os 47,31 milhões de hectares da safra anterior. A área aumenta e produtividade média do conjunto das lavouras de verão tende a ser menor. O resultado final pode interromper um ciclo de alta verificado há três safras consecutivas, depois de cair a 114,6 milhões de toneladas em 2004/05, ano de uma das maiores crises do agronegócio brasileiro.
O milho de verão, lavoura em que o Paraná é líder na produção, é a cultura mais atingida. No ano passado, segundo a Conab, o Brasil produziu 39,9 milhões de toneladas na primeira safra. Agora, pode cair a 37,23 milhões de toneladas (-6,7%) ou atingir, no máximo, 38,19 milhões (-4,5%). Se os dados se confirmarem, a soja se mantém estável. Foram 60 milhões de toneladas no ano passado, para 60,1 ou 60,2 milhões de toneladas no ciclo atual. Ao lado do milho, ainda terão redução o arroz e o algodão.
A grande aposta está no cultivo do feijão das águas, ou de 1ª safra. A área pode ir a 1,46 milhão de hectares, ou 11,6% superior ao ano passado. O limite inferior é 8,6% maior, para 1,42 milhão de hectares sobre os 1,31 milhão cultivados na safra 2007/08. O Paraná é o maior produtor de feijão nesta época, com 1/3 do volume do país.
Como a sondagem a campo pelos técnicos da Conab foi realizada durante o mês de setembro, a estimativa não considera o impacto da recente crise financeira que abala a economia mundial. Mas na avaliação da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), a turbulência deste momento não influenciou e também não deve influenciar significativamente as projeções da próxima safra. "A compra de insumos já foi realizada e parte da área já foi cultivada. As mudanças, para mais ou para menos, ocorreram lá atrás e levaram em conta, basicamente, o custo de produção, afetado pela alta dos fertilizantes", diz o analista Robson Mafioletti
Gilda Bozza, economista da Federação da Agricultura do Paraná (Faep), lembra que o cenário desenhado pela Conab não é nenhuma surpresa. "O uso de menos tecnologia já era esperado, devido a alta nos insumos, situação que pressiona os custos." Ela destaca, como ponto positivo, a relação cambial, que neste momento é favorável ao agricultor, embora haja produto disponível no mercado e ausência de compradores. Na conversão em moeda nacional, a saca de 60 quilos fechou ontem no Paraná acima dos R$ 40, com uma leve alta da cotação na Bolsa de Chicago.
IBGE
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também divulgou ontem mais uma estimativa para a produção agrícola de 2008. O resultado da safra nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas, segundo levantamento do órgão, atingiu em setembro 145,3 milhões de toneladas.
Apesar de ser ligado ao governo federal, o instituto utiliza calendário e metedologia diferente da Conab. Enquanto o IBGE ainda mede o ciclo anterior, a Conab já apresenta a estimativa para a próxima safra.