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As vendas e a produção de veículos novos no Brasil devem recuar este ano em meio à crise global, mesmo levando em conta o efeito positivo da redução do IPI para o setor durante todo o primeiro semestre.

A associação de montadoras Anfavea previu nesta segunda-feira queda de 3,9 por cento nas vendas deste ano, para 2,710 milhões de unidades, no primeiro recuo desde 2003. O prognóstico para a produção é de declínio de 11,2 por cento, a 2,860 milhões de veículos - neste caso, será a primeira queda desde 2002.

O impacto da crise financeira internacional é ainda mais significativo se for considerado que o desempenho previsto para 2009 ocorre após um ano em que tanto as vendas como a produção bateram recordes no Brasil.

Para 2010, no entanto, o presidente da Anfavea, Jackson Schneider, prevê um cenário em que o mercado interno estará mais fortalecido pelos investimentos previstos pelo governo em projetos de infraestrutura, como a construção de 1 milhão de casas populares e o desenvolvimento das reservas de petróleo do pré-sal.

Com isso, em 2010 "o mercado interno tem mais chances de superar (o recorde de vendas do ano passado)", segundo ele.

"Os investimentos em infraestrutura se refletem diretamente no mercado de veículos. Se a indústria assegura trabalho, assegura o mercado interno", acrescentou Schneider.

O problema mais grave para o setor continua sendo o segmento de exportação, que despencou 50,8 por cento no primeiro trimestre, para 3,24 bilhões de dólares, e tem previsão de queda de 39 por cento em 2009, a 8,5 bilhões de dólares.

Em 2008, as vendas externas avançaram 3,4 por cento, para 13,925 bilhões de dólares.

Nova prorrogação de IPI?

O quadro externo impacta diretamente a produção, afirmou Schneider, depois que em meados da década muitas montadoras ampliaram a capacidade produtiva para atender clientes fora do Brasil.

As exportações para a Argentina, principal destino das vendas externas da indústria automotiva brasileira, desabaram 62 por cento no primeiro bimestre na comparação anual.

Diante disso, o presidente da Anfavea afirmou que o setor precisa "olhar cada vez mais para dentro de nosso mercado interno "ampliado", que envolve a América Latina".

"Da noite para o dia tem capacidade produtiva sobrando que está agora buscando outros mercados para escoar. A competição vai ficar muito mais perversa", acrescentou.

A Anfavea previu que as exportações em volume este ano devem apresentar queda de 32 por cento, para 500 mil unidades.

Enquanto a briga por mercado se intensifica, o mercado interno segue apoiado na prorrogação, até fim de junho, do desconto do IPI sobre automóveis.

Segundo Schneider, não fosse o corte no imposto, a alta de 3,1 por cento nas vendas do primeiro trimestre teria se traduzido em um mercado interno "caindo 20 a 30 por cento, com certeza".

Ele evitou especular sobre eventual prosseguimento da redução do imposto até o final do ano, conforme intenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentada por uma alta fonte do governo na semana passada.

"Não acredito que seja viável uma nova prorrogação. Participei da última negociação e posso dizer que foi muito custoso conseguir", disse Schneider.

Com a expectativa dos consumidores de que o desconto acabaria, as vendas de veículos em março dispararam 36,2 por cento sobre fevereiro e 16,9 por cento sobre março de 2008, para 271,4 mil unidades.

Enquanto isso, os estoques na cadeia automotiva caíram de 27 para 18 dias de vendas em março, a 165.460 unidades --pouco mais que a metade do verificado no auge do impacto da crise no setor, em novembro.

A continuidade do IPI menor até o fim de junho foi um dos fatores considerados nas projeções de desempenho do setor divulgadas pela Anfavea. Segundo Schneider, o cenário divulgado é "realista".

Em dezembro, o governo anunciou a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre automóveis por três meses e na semana passada renovou a medida por mais três meses, para impulsionar um setor que é responsável por mais de 20 por cento do Produto Interno Bruto industrial.

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