Curitiba O crescimento das vendas de veículos durante o primeiro semestre do ano aponta para uma expansão acima de 40% na produção da indústria automotiva instalada no Paraná em 2005. A previsão é do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), que acompanha o desempenho do setor a pedido do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba. Esse resultado deve ser obtido com a manutenção dos embarques para outros países e com a reação do mercado interno sentida nos últimos seis meses.
Dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos (Anfavea) mostram que as exportações cresceram em ritmo mais acelerado que as vendas internas durante o primeiro semestre. No Paraná, esse fenômeno também foi registrado. A participação das vendas externas na produção das montadoras passou de 36,4% nos primeiros cinco meses de 2004 para 37% no mesmo período de 2005. "Foi um aumento menor do que a média do país porque o estado já tinha um perfil exportador, mas mostra que este é um fator importante para a expansão do setor", diz o economista Cid Cordeiro, do Dieese.
A unidade da Volkswagen em São José dos Pinhais foi a que mais contribuiu para esse crescimento. A fábrica exportou 60,4 mil veículos nos primeiros seis meses deste ano. Isso representa cerca de 60% da produção e uma elevação de 160% no número de unidades embarcadas. O grande destaque de 2005 é o fechamento de um contrato para a comercialização do modelo Fox na Europa, destino de 36,2 mil unidades até o fim de junho.
Na Renault, os dados referentes ao período de janeiro a maio mostram um crescimento perto de 90% nas vendas para outros países. Foram 7,2 mil unidades, entre automóveis e comerciais leves, despachadas entre janeiro e maio.
Apesar do desempenho animador, executivos das montadoras vêm reclamando da valorização do real. Segundo eles, as fábricas brasileiras perdem competitividade com a apreciação da moeda e devem ter prejuízos para atender aos contratos fechados quando a cotação do dólar batia nos R$ 3. Um dos primeiros movimentos de retração na busca do mercado externo foi feito pela General Motors, que reduziu os embarques para o México.
Na opinião do analista Corrado Capellano, diretor da consultoria Roland Berger, as manifestações dos executivos não têm como alvo o valor do dólar em si, mas a instabilidade. "As indústrias conseguem se regular a praticamente qualquer cotação. Elas definem custos, fornecedores e preços com base em um câmbio e depois fecham as vendas", afirma Capellano. "Mas nenhuma indústria tem como agüentar uma variação de 30% no dólar em menos de 12 meses. Isso corta a receita e inviabiliza os negócios", completa.
Para o consultor especializado em setor automotivo Francisco Trivelatto, as montadoras terão de absorver os eventuais prejuízos com as exportações porque não podem rescindir contratos assinados no ano passado. O único alívio para o caixa das companhias é que o dólar barato reduz custos. "Quando o dólar custava R$ 3, os executivos reclamavam que não tinham como repassar aumentos de matérias-primas no mercado interno. Agora, eles reclamam que não podem exportar. Houve uma inversão de problemas", diz.
Além de precisar cumprir contratos, as companhias do setor têm outro motivo para manter as exportações: os projetos no país são de longo prazo. A capacidade instalada no Brasil é de 3 milhões de unidades e neste ano é projetada uma produção de 2,3 milhões de veículos. Sem as exportações, a ociosidade voltaria para níveis bastante altos. "As montadoras procuraram outros mercados para sobreviver no país. Elas esperam que o mercado interno volte a ter alguns anos seguidos de crescimento", explica.
Capellano, da Roland Berger, lembra que a combinação de instabilidade cambial, política e na regulação fiscal pode custar ao Brasil a perda de investimentos. "As indústrias não gostam de risco e por isso buscam mercados mais estáveis, como Leste da Europa e China", diz. Segundo ele, o crescimento interno ainda é pequeno para atrair novas aplicações das montadoras. "Não podemos nos enganar com tão pouco", avisa.