A indústria brasileira confirmou em novembro que a crise no setor está longe de ser resolvida. A produção recuou 0,7% em relação a outubro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O tombo foi maior do que as mais pessimistas previsões de analistas do mercado financeiro.
A produção industrial brasileira está operando 6,8% abaixo do seu patamar recorde, alcançado em junho de 2013. Os estoques elevados estão entre as explicações para o resultado. "É um componente que permanece em todo o ano de 2014, especialmente para setores ligados a bens de capital e bens de consumo duráveis, que não por acaso são categorias que registram as maiores perdas. São grupamentos onde a variável estoques é importante para esse menor ritmo de produção", explicou André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.
O resultado piorou as expectativas para a atividade econômica no fechamento de 2014. "É muito provável que tenhamos um PIB [Produto Interno Bruto] no final do ano em queda entre -0,5% e -0,7% (no quarto trimestre). Isso fará que o PIB de 2014 feche em 0% ou mesmo levemente negativo", alertou André Perfeito, economista-chefe da corretora Gradual Investimentos, levando em conta uma estabilidade na indústria em dezembro somada ao resultado comercial negativo de US$ 3 bilhões no quarto trimestre de 2014.
A seca em São Paulo contribuiu para as perdas em novembro, informou o IBGE. Os prejuízos à safra de cana derrubaram a produção de açúcar e álcool, itens que puxaram as quedas nas duas atividades que mais contribuíram para o recuo da indústria no mês: alimentos e derivados do petróleo e biocombustíveis.
No ano, a retração na indústria nacional já é de 3,2%. O setor de veículos acumula uma queda de 17,3% no período, embora tenha mostrado resultados melhores nos últimos meses. "O saldo dos últimos cinco meses para veículos automotores é de uma alta de 24,3% na produção. Essa informação por si só poderia sinalizar que o setor está se recuperando. Mas, de março a junho, o recuo foi de 28%. É alta sobre um patamar bastante reduzido", disse Macedo.
Além dos estoques elevados, outras causas que explicam as perdas no setor automotivo são o desaquecimento da demanda doméstica, a queda nas importações para a Argentina, o impacto da redução dos investimentos sobre a fabricação de caminhões, e o reflexo disso tudo no setor de autopeças.
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