Barbato, presidente da Abinee, defende que empresários continuem pressionando por redução dos impostos| Foto: Divulgação

Por competitividade, entidade defende fim do câmbio flutuante

O presidente da Abinee, Humberto Barbato, defendeu ontem, em Curitiba, o fim da política de câmbio flutuante, um dos tripés da economia brasileira desde 1999, ao lado da meta de inflação e do superávit primário. Para ele, a medida seria um mecanismo para garantir maior competitividade à indústria nacional, especialmente o setor de eletroeletrônicos, um dos mais atingidos pela "invasão chinesa" – movimento de importação de produtos do país asiático iniciado no começo da década passada.

A declaração foi dada em encontro na Fiep, durante uma reunião com empresários paranaenses. O câmbio flutuante permite que o governo não adote um valor fixo, em reais, para o dólar, que é definido pelo mercado. A participação das exportações no faturamento do setor caiu de 20,4%, em 2005, para 10,8%, em 2010.

Desindustrialização

"O câmbio tem solução, o que não se tem é coragem de solucionar. A China resolveu a questão. O problema é que aqui a indústria deixou de ser prioridade. Lá não. Quando o país estiver desindustrializado, como aconteceu na Argentina, aí se começa a fazer programas de reindustrialização do país, assim como os argentinos estão fazendo agora", afirmou ele.

"[A taxa de câmbio flutuante] é um absurdo. Isso é para ser em usado em determinados momentos. Essa política foi importante par a implantar o real, para conter a inflação lá atrás, mas agora [é uma política que] está perdendo".

A Abinee propõe a adoção de uma compensação pela perda de competitividade por causa do câmbio. A proposta é a desoneração da contribuição patronal ao INSS e da parcela da produção do setor eletroeletrônico que é exportada. Além disso, a associação também é a favor de fortalecer a indústria nacional de componentes, grande fornecedora do setor. "As empresas estão começando a achar que distribuir é mais interessante do que produzir", afirmou, ressaltando o temor de que o país esteja a caminho de um processo de desindustrialização.

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Confira aonde estão concentradas as empresas de eletroeletrônicos do Paraná
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Quase 70% das empresas paranaenses do setor eletroeletrônico apostam em novos produtos como a principal estratégia para enfrentar a concorrência. A qualificação de pessoas, novas tecnologias e enxugamento de custos são, na ordem, os fatores seguintes citados como prioritários pelas companhias. Os números são do Perfil Industrial do Setor Eletro­ele­trônico no Paraná 2011, divulgado ontem pela Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) e pela Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee).

O Paraná é o quarto estado em número de trabalhadores do setor, com 34 mil dos 175 mil empregados no país, atrás de São Paulo, Amazônia e Minas Gerais. A pesquisa mostra que as companhias estão concentradas (73%) na região de Curitiba, mas com representatividade também em Londrina, Maringá, Pato Branco e Apucarana. Em 2009, as vendas dessas empresas somaram R$ 11,2 bilhões. O montante exportado foi de US$ 243,5 milhões e o importado, de US$ 1,2 bilhão – um déficit de quase US$ 1 bilhão, que preocupa a Abinee.

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"O Brasil não pode entrar na comoditização. É um país de custo muito elevado. Não há como competir contra uma China, por exemplo", diz Cleber Morais, presidente da Bematech, empresa de automação comercial e bancária. Além da taxa de câmbio, apontada como uma das causas da perda de competitivdade da indústria brasileira, a carga tributária e a rigidez das leis trabalhistas são as maiores reclamações dos empresários.

Para Morais, a melhor estratégia é buscar soluções pontuais para a redução dos impostos. "O governo quer arrecadar, não adianta. O que temos de tentar são mudanças específicas." Ele aponta a MP do Bem, que desonerou laptops e desktops do PIS/Cofins, como um iniciativa de sucesso, que aumentou a competitividade das companhias que fabricam esses produtos.

Para o presidente da Abinee, Humberto Barbato, o empresariado deve continuara reivindicando uma redução dos impostos. "É preciso reduzir o gasto do governo. Por que que tanta obra pública custa o dobro do que deveria custar?", questionou.

Qualificação

A falta de mão de obra especializada é outro obstáculo para as empresas de eletroeletrônicos. Sérgio Luiz Correia, diretor-administrativo da Roque Correia, empresa de automação industrial com 40 funcionários, diz que a falta de trabalhadores coloca em risco, inclusive, o fechamento de novos negócios. Um levantamento feito pela empresa mostra que a rotatividade de trabalhadores nunca foi tão grande quanto nos últimos três anos – a empresa tem 17 anos de mercado. "É uma característica da Geração Y, que troca mais de empregos, mas não é só isso", diz ele. "O profissional sai da faculdade empregado. Encontrar um trabalhador qualificado é cada vez mais um gargalo para as empresas."

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A mão de obra não qualificada é apontada por 29% das empresas como uma das principais dificuldades para enfrentar a concorrência. Para aumentar a retenção de profissionais, a Roque Correia oferece benefícios de empresa de grande porte: horário flexível, plano de participação nos resultados e plano de saúde, além de também fazer pesquisas de satisfação do colaborador. "Temos nos aproximado das instituições de ensino e contrato mais estagiários, com o objetivo de formar os novos profissionais", afirma Correia. De acordo com o levantamento, 43% das empresas acreditam que faltam mais e melhores instituições para a formação de mão de obra especializada.

A sondagem da Abine contou com a participação de 47 empresas e tem uma margem de erro pré-estipulada em 10%.