Representantes dos produtores de aves e de suínos disseram nesta segunda-feira ver mais benefícios do que riscos em uma eventual compra da Perdigão pela Sadia, as duas maiores empresas do setor.

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A Sadia lançou uma oferta pública voluntária pela Perdigão em um negócio que pode envolver R$ 3,7 bilhões. As duas ocupam, respectivamente, a primeira e a segunda colocação no setor de alimentos no Brasil. O negócio criaria a quarta maior empresa exportadora do país, com receita líquida anual superior a R$ 12 bilhões.

- Não vejo esse negócio como uma ameaça à produção de suínos no Brasil. O produtor já enfrenta uma situação de fragilidade diante dessas empresas e, dado o ganho de escala advindo do negócio, ele pode sair ganhando - disse Rubens Valentini, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS).

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Valentini explica que Sadia e Perdigão têm a maior parte de sua produção integrada a pequenos e médios produtores e que, por atuarem em diferentes áreas dentro dos Estados, as empresas não competem entre si pela produção das granjas.

- Essas empresas já não operam de forma competitiva no mercado de suínos. Você não vê uma disputa entre Perdigão e Sadia pela compra de porcos vivos. Se houver exportações mais fortes (com a criação de uma empresa maior), o produtor pode ganhar - disse.

O vice-presidente técnico-científico da União Brasileira de Avicultura (UBA), Ariel Mendes, vê na concretização do negócio mais reflexos na exportação do que no mercado interno.

- Não deve haver uma concentração maior no mercado interno de frango porque tanto Sadia quanto a Perdigão exportam ao redor de 90% de sua produção - disse ele.

Mendes também acredita que o produtor pode lucrar com o ganho de escala advindo de uma empresa maior.

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- A vantagem do ganho de escala é que a empresa trabalha com custos de produção menores. Isso pode melhorar a remuneração do produtor.

A exemplo do que ocorre no mercado de suínos, segundo Mendes, as duas empresas já não competem pela produção dos avicultores. Por isso, não há entre eles uma preocupação muito grande com uma concentração desse mercado.

- Sadia e Perdigão atuam em regiões diferentes. Na prática, o produtor já não tem duas opções. Quer dizer, tem a opção entre essas duas empresas e outras menores, dependendo da região - afirmou.

O Brasil é o maior exportador mundial de carne de frango e o quarto maior de carne suína. Em 2005, as vendas externas dessas carnes renderam cerca de R$ 5 bilhões.

CONCENTRAÇÃO

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Já na opinião do diretor técnico da FNP Consultoria, José Vicente Ferraz, a compra da Perdigão pela Sadia, se concretizada, criará uma empresa mais forte para concorrer no mercado internacional, mas representará uma concentração no mercado interno que pode afetar consumidores e produtores.

- É uma concentração (de mercado) significativa. São as duas maiores empresas do setor no mercado interno. Por outro lado, há efeitos positivos na exportação, as empresas ganham musculatura para concorrer no mercado internacional - disse à agência Reuters o diretor técnico da consultoria, José Vicente Ferraz.

Ele comparou o negócio à criação da Ambev, em 1999, fruto da fusão das cervejarias Brahma e Antarctica, as duas maiores do setor.

- Há benefícios do ponto de vista do mercado internacional, mas do ponto de vista interno, é discutível - afirmou.

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