A decisão do Banco Central Europeu de lançar um programa de compra em larga escala de títulos soberanos não foi adiada por oposição da Alemanha, afirmou o vice-presidente da instituição, Vitor Constâncio, neste sábado. Em discurso para estudantes da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, ele também disse que, mesmo se o governo da Grécia falhar na missão de assegurar o apoio da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional para suas políticas econômicas, o BCE ainda poderia fornecer alguma ajuda aos bancos gregos.
No dia 22 de janeiro, o BCE anunciou que daria início à compra de 60 bilhões de Euros (US$ 73 bilhões) em títulos do governo e outros ativos a cada mês, começando em maço e com fim provável em setembro de 2016. No entanto, os dois membros alemães do conselho diretivo do banco central se opuseram ao uso da estratégia, conhecida como Quantitative Easing, ecoando as vozes de milhares de cidadãos da Alemanha que são contrários à medida.
Em resposta a uma pergunta durante sua palestra, Constâncio negou que o BCE tenha de alguma forma adiado o processo devido a oposição de um de seus membros. "Eu não concordo com a suposição de que nós fomos atrasados por causa das divergências sobre essa política", disse o vice-presidente da entidade. "O fato de que tomamos essa decisão é a prova de nossa independência."
No discurso, Constâncio detalhou as razões do BCE para lançar o Quantitative Easing. Ele identificou a falta de demanda como principal razão para a desvalorização das moedas locais e para os níveis baixos de crescimento e inflação na Europa.
Segundo o dirigente, a Zona do Euro deverá registrar níveis de produção abaixo do potencial da economia até 2019. Para sair dessa situação, disse, "será necessária uma política monetária mais expansionista, que, ao mitigar a apatia econômica, garanta a estabilidade dos preços".
Ele acrescentou que, na atual situação, o objetivo de impulsionar o crescimento econômico no curto prazo "converge" com o objetivo do Banco Central Europeu de segurar a inflação abaixo dos 2% no médio prazo. Ao decidir lançar o programa de compra de títulos, Constâncio disse que o BCE foi parcialmente motivado pela "queda significativa das expectativas de inflação de longo prazo", o que ele afirmou ser "uma situação muito arriscada para qualquer banco central".
De acordo com o economista, as medidas de estímulo anunciadas em Junho e em Setembro claramente não estavam surtindo o efeito esperado. No entanto, ele acrescentou que o conselho diretivo se sentia "encorajado" pela resposta inicial ao Quantitative Easing apesar de ainda não estar claro se as alterações nos preços dos ativos que se seguiram ao anunciou serão sustentáveis.
Constâncio disse ainda que o BCE irá aplicar suas regras gerais também no caso da Grécia, e não aceitará títulos gregos como garantia adicional se o país não der continuidade ao programa de reformas com a União Europeia. O programa atual de ajuda à Grécia acaba na metade de fevereiro.
Porém, ele lembrou que, mesmo nessas circunstâncias, os bancos gregos ainda poderiam receber o apoio de um programa conhecido como Assistência Emergencial de Liquidez. A ajuda por meio desse mecanismo é fornecida pelo banco central nacional do membro da Zona do Euro no qual o banco está baseado, mas requer a aprovação do conselho diretivo do BCE.