O forte crescimento do Brasil no início do ano não foi suficiente para mudar as apostas do mercado para a trajetória do juro básico da economia, a taxa Selic. Com a avaliação de que os dados apresentados representam o auge da expansão da economia no passado e que a atividade já está em ritmo menor, analistas reforçaram a previsão de que hoje ocorra a aguardada alta de 0,75 ponto porcentual da Selic, seguida de aumentos iguais em julho e setembro.
Os números apresentados ontem para o Produto Interno Bruto (PIB) foram ligeiramente superiores à expectativa da maioria dos analistas, mas ficaram dentro da margem prevista. Na média, os economistas previam expansão trimestral de 2,5% e o PIB cresceu 2,7%. Na comparação anual, a expectativa era de 8,55% e o ritmo atingiu 9%. "A maioria dos economistas previa números bem próximos dos apresentados pelo IBGE. Por isso, não há motivo para mudar as previsões para a Selic", diz a economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thaís Zara. Ela explica que o crescimento é "visto pelo retrovisor" e que a velocidade já está menor, em um processo gradual de acomodação. Por isso, o cenário do juro não mudou.
Ministro
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, usou o mesmo tom para falar sobre a Selic. Ele disse que preferia não fazer comentários sobre a reunião do Copom, mas afirmou que "é preciso olhar para a frente e não para trás", numa clara referência à trajetória de inflação que dá sinais de retração. Mantega admitiu que o forte crescimento do primeiro trimestre pode ter causado uma elevação "normal" dos preços, especialmente no setor de serviços, mas ele repetiu que trabalha com um cenário de que o crescimento vai desacelerar nos próximos trimestres, sem pressionar, portanto, a inflação.
Efeito tardio
Thaís Zara afirma que o aperto monetário que começou em abril e deve acabar em setembro só começará a fazer efeito na atividade econômica no fim do ano, com impacto pleno apenas em 2011. Esse "atraso" é normal e é considerado pelo BC em suas decisões.
O economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, reforça a avaliação. Em relatório, ele afirma aos clientes que a economia deve apresentar "um ritmo mais moderado de expansão" nos próximos trimestres. O Bradesco, assim como a maioria do mercado, prevê que o juro deve subir 2,25 pontos a partir de agora até atingir 11,75% no início de setembro. Com esse cenário, a instituição prevê expansão da economia de 7% no ano e inflação de 6%, perto do teto da meta de 6,50%.