Energia eólica é vista como parte do futuro de energias renováveis| Foto: Falk Schaaf/Freeimages

Um projeto que nasceu para reciclar baterias de ônibus elétricos, em Curitiba, pode ser a chave para enfrentar apagões do outro lado do mundo, na Austrália. A tecnologia desenvolvida pela Fohat permite que as baterias se transformem em sistemas inteligentes, que podem até comprar e vender energia diretamente para a rede elétrica.

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O fundador da startup, Igor Ferreira, começou a estudar o conceito de reutilização de baterias (“battery second use”, no termo em inglês) quando trabalhava como engenheiro eletricista na Volvo. É uma área de pesquisa bastante popular no segmento de veículos elétricos.

“A gente monitorava um indicador de ‘estado de vida’ das baterias, e quando ele chegava perto dos 70% já não tinha a mesma eficiência para colocar o ônibus em movimento”, lembra Igor.

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Os veículos elétricos eram só a ponta do iceberg. Igor logo percebeu que o reuso de baterias poderia ser a chave para resolver alguns dos principais desafios do setor elétrico.

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Gestada no programa do Founder Institute, uma espécie de “escola” para fundadores de startups, a Fohat desenvolve softwares que podem ser acoplados a sistemas de baterias, as chamadas microrredes.

Em pouco mais de um ano, a startup já desenvolve soluções em parceria direta ou indireta com empresas como Rumo, Bosch, e Volvo. Além de ter sido a única da América Latina selecionada no Startup Bootcamp, programa australiano que reúne algumas das principais startups de energia do mundo.

A questão australiana

A Austrália é um país com muitos problemas de resiliência no sistema de energia, explica o Head de Marketing da Fohat, Renan Schepanski. Significa que, ao invés da transmissão de energia permanecer estável, há picos em que uma quantidade muito grande (ou muito pequena) de energia é injetada, de forma súbita.

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Tudo isso causa instabilidades, similar a quando os aparelhos eletrônicos “piscam” (desligam e ligam novamente, em um intervalo curtíssimo de tempo). Para um grande cliente, isto pode ser um problema grande.

“Uma rede de um shopping, por exemplo, não pode ser derrubada de uma hora para outra. A gente pode criar microgrids [microrredes] com energia distribuída para suprir a necessidade de um ponto qualquer, como um shopping ou indústria”, explica Renan Schepanski.

A microrrede funciona com um backup. Só que, diferente dos geradores tradicionais (que entram em ação quando há uma queda de energia), a microrrede se alterna com o fornecimento da rede tradicional, mantendo a transmissão sempre em um nível estável. A função do software da Fohat é garantir esta operação, que ocorre de forma automática.

Tecnologia já existente, nova forma de usar

A tecnologia de microrredes (ou microgrids) não é nova. São grupos de baterias, que podem armazenar e fornecer energia. Seu uso mais comum ocorre em comunidades afastadas, onde é mais fácil conectar os usuários a esta pequena rede, isolada, do que construir a infraestrutura necessária para levar o cabeamento da rede elétrica.

Mas outro conceito é o da “integração de recursos distribuídos”, em que a microrrede conversa com o sistema integrado de energia. As soluções que surgem a partir disso são diversas, e dependem da demanda do mercado. A Fohat tem mapeadas pelo menos oito soluções possíveis para o mercado brasileiro e mundial.

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Um deles são os chamados contratos de “resposta e demanda”, em que um grande cliente (uma indústria, por exemplo) se compromete a “desligar” sua conexão com a rede elétrica nos horários de pico.

Produzir energia nestes momentos de alta demanda é mais caro e difícil. Portanto o governo (ou concessionária) estaria disposto a bonificar os usuários que desliguem suas cargas, aliviando o sistema.

A indústria, por outro lado, não precisa desligar as máquinas. Ela corta o fornecimento da rede principal e passa a se alimentar da sua microrrede privada. Além de ajudar o sistema como um todo, ela ainda ganha um bônus financeiro.

Mas não basta ter uma microrrede instalada para que este processo funcione. A Fohat desenvolve um software que faz todo este diálogo de forma automática. O tema também está em discussão, no Brasil, com os órgãos reguladores, como a Aneel.

Blockchain é peça-chave para nova fase do setor de energia

Outra frente de atuação da Fohat é no blockchain. A tecnologia, que ficou conhecida como base da criptomoeda Bitcoin, pode ser crucial para a nova fase do mercado de energia.

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O blockchain nada mais é do que uma linguagem. Da mesma forma que o alfabeto romano é utilizado para compor palavras e assim transmitir mensagens pela escrita (como esta reportagem), o blockchain é utilizado para transmitir informações.

Sua vantagem, em relação a outras linguagens de computação, é a segurança, graças a um complicado sistema de criptografia.

No meio disso tudo está o mercado de energia que, cada vez mais complexo, precisa transmitir muitas informações, de diferentes tipos. Antigamente era simples: a energia era produzida em usinas e percorria caminhos pré-determinados até o cliente.

Hoje é possível que o próprio cliente abasteça o sistema, com uma placa solar doméstica, por exemplo. Ou que uma associação de moradores mantenha uma pequena pequena usina a 300 quilômetros de distância — e que troque a energia produzida por ela pela da rede.

Há uma série de trocas possíveis que envolvem um complexo sistema de remuneração financeira. E ainda é preciso contabilizar toda a energia que circula.

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“Trabalhar com blockchain no mercado de energia não é como no mercado financeiro, porque além do dinheiro você precisa fazer a gestão do elétron, o que não é simples”, explica o Head de Marketing da Fohat.

Além de contabilizar gastos, o sistema de blockchain faz a gestão da energia, para garantir que o próprio sistema funcione de forma otimizada, sempre buscando a economia de energia. Ele vai procurar sozinho qual a energia mais barata que está sendo produzida naquele sistema.

Tripé energético

Quando gestava o conceito da Fohat, Igor Ferreira pensava reaproveitar baterias para construir suas próprias microrredes de energia. Conforme a ideia amadureceu, a equipe identificou que valia mais a pena investir na inteligência de como adaptar estas baterias para demandas energéticas do século 21.

Além dele, outros seis sócios, todos profissionais com larga experiência na indústria e no mercado, compõe a Fohat. A startup atua em cima de um tripé de segurança energética, resiliência ambiental e facilidades financeiras.

Os projetos da startup se dividem em dois grandes grupos. O Energy Plug (que trata da interface com o elétron) e o Energy Fog (que lida com a comercialização). Dos produtos mapeados, os três mais avançados estão ligados a resposta-demanda; virtual power plant (VPP, uma espécie de micro-usina descentralizada); e certificados de origem (que ajudam a valorizar a energia oriunda de fontes renováveis).

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