O projeto do trem-bala, que irá ligar o Rio de Janeiro a São Paulo, num investimento avaliado em R$ 30 bilhões, deve contar com condições especiais de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), à semelhança do que ocorreu com o projeto da hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (PA). A perspectiva de mudanças nas condições de financiamento, que reduzem o custo da obra, reacenderam o interesse de grupos nacionais e estrangeiros. A Invepar, holding que reúne os fundos de pensão Previ (Banco do Brasil), Funcef (Caixa Econômica Federal), Petros (Petrobras) e a construtora OAS, desde o mês passado retomou negociações para a formação de um consórcio para disputar a obra.
Na semana passada, representantes da holding estiveram na Coreia; na semana que vem irão ao Japão e já preparam um encontro com empresas chinesas, revela o diretor de participações da Previ, Joilson Ferreira. "Todos estão buscando novos projetos e financiamento com taxa adequada, que atenda a essa condição de investimento estruturante, portanto longo. Percebemos que há uma discussão também (no BNDES e no governo) sobre a mitigação do risco de demanda. Estávamos olhando o projeto antes meio na lateral. A novidade agora é que a Invepar está, mais do que no passado, interessada no projeto", disse Joilson.
A Invepar, uma companhia fechada, sem negociação em bolsa de valores, é o veículo que reúne participações dos fundos de pensão e da OAS em transporte e infraestrutura. A holding administra, no Rio, a Linha Amarela e Metrô; em São Paulo, Cart (Corredor Raposo Tavares), e na Bahia a CLN (estrada que liga Salvador a Sergipe) e BA-093 (rodovia na região metropolitana de Salvador).
"Fomos à Coreia na semana passada conhecer o projeto deles. Na próxima semana iremos ao Japão, a convite da Mitsui. Estamos olhando como investidores e como participantes de consórcios. É um investimento muito grande. É muito dinheiro para um investidor só. Temos a vantagem de ter o Metrô do Rio e de ter executivos que conhecem este tipo de operação", diz o diretor da Previ.
Os fundos de pensão pretendem conversar com todos os consórcios e "assinar acordo com quem nos apresentar maior segurança em todos os aspectos". Ferreira lembra da licitação de Belo Monte, na qual a Previ participou indiretamente, por meio das empresas controladas Vale e Neoenergia, comentando que também naquela ocasião o projeto parecia de difícil viabilidade. Intervenções do governo, facilitando o financiamento e a aquisição de equipamentos, além de mudanças no projeto, permitiram que dois grupos disputassem a obra, vencida pelo consórcio concorrente ao da Previ.
Para o trem-bala está havendo o mesmo esforço para tornar o investimento viável, principalmente com excepcionalidade de financiamento. "A questão é prazo e porcentual. Isso é algo que se pode fazer. E percebemos que há um empenho grande dos técnicos (do BNDES)", afirmou. Apesar do otimismo, ele não arrisca um palpite sobre a conclusão da obra a tempo da realização da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016. "Não consigo dizer isso hoje", afirmou.
O executivo lembra que havia muitas dúvidas em relação à obra do trem-bala, especialmente em relação ao custo, questões ambientais, traçado, estações que seriam feitas ou não, e investimento público. "Faz uma diferença enorme uma estação a mais ou a menos no projeto. A Invepar nunca deixou de olhar, mas agora tem mais interesse."