Mais de metade dos projetos de transportes previstos no Plano de Aceleração do Crescimento lançado neste ano pelo governo federal não irá além das etapas de planejamento, disse na terça-feira a Fundação Dom Cabral, entidade de Minas Gerais voltada para o estudo da infra-estrutura.
O PAC dá ênfase especial à infra-estrutura brasileira, na esperança de lançar as bases para um crescimento sustentável.
"O dinheiro planejado para o setor de transportes está no maior nível de investimento como percentual do PIB que já vimos na história", disse o engenheiro Paulo Resende, coordenador de estudos logísticos da Fundação Dom Cabral.
Resende disse que, em 1975 e 1976, o regime militar investiu cerca de 1,8 por cento do PIB em estradas, portos, ferrovias e hidrovias, mas que nos últimos 20 anos os investimentos no setor caíram para menos de 0,2 por cento do PIB. O pacote do governo equivale a 2,9 por cento do PIB brasileiro, que atualmente se aproxima de 1 trilhão de dólares por ano.
"Mas duvido que mais da metade dos projetos vá ver a luz do dia", disse Resende. "Há dois problemas: os governos federal e estaduais não se entendem a respeito dos projetos, e o Congresso não vê qualquer urgência com relação ao pacote."
Resende disse que, desde o apagão elétrico de 2001, os economistas estão mais atentos à importância da infra-estrutura de transportes, que está próxima do colapso devido à negligência.
"Numa escala de 1 a 10, o governo deu consideração zero a como funciona a plataforma logística. Então, apesar dos enormes investimentos, os gargalos logísticos vão se agravar," previu.
O engenheiro disse que os investimentos agora planejados para o setor podem reduzir o custo dos transportes no Brasil em até 20 bilhões de dólares por ano, mas que o governo está desperdiçando outros 20 bilhões anuais por não investir melhor.
"Os projetos de investimentos favorecem estradas, o que vai ajudar a reduzir o custo do transporte no Brasil, mas não há um centavo destinado ao armazenamento nas áreas produtivas ou nos portos," afirmou.
Levando em conta os tamanhos das respectivas produções agrícolas, os EUA têm cinco vezes mais capacidade de armazenamento das suas safras do que o Brasil, comparou Resende. "Isso condena os produtores a embarcar suas safras para o mercado imediatamente, a despeito do preço."
Não foi possível ouvir funcionários do Ministério dos Transportes sobre os comentários de Resende.