Oficialmente, o programa Paraná Competitivo garantiu R$ 35 bilhões em investimentos da iniciativa privada nos últimos quatro anos, segundo o governo do estado. Mas análise feita pela Gazeta do Povo com base em uma lista publicada no Diário Oficial do dia 27 de janeiro, pela Agência Paraná de Desenvolvimento, revela que a cifra é inflada por projetos suspensos ou de execução incerta e por empresas de origem duvidosa.
Na relação figuram 27 empreendimentos classificados como “efetivamente confirmados” pelo programa, somando R$ 2,54 bilhões em investimentos. No entanto, pelo menos quatro deles, com aportes acima de R$ 100 milhões cada, estão paralisados, não foram confirmados pelas empresas ou têm viabilidade difícil de aferir.
É o caso da Atto, montadora de veículos elétricos com sede em Cascavel, na Região Oeste, que assinou em julho do ano passado um protocolo de intenções para investir R$ 380 milhões no estado via Paraná Competitivo.
A companhia, que não tem site oficial ou nenhuma outra informação disponível na internet, só foi localizada por meio do registro de pessoa jurídica da Receita Federal. A reportagem entrou em contato com o responsável, Odilon Sinhorin, através do telefone registrado no órgão, mas o número não é da sede da Atto e sim de um curso de português e oratória, onde ele é diretor.
Sinhorin afirmou que a empresa está desenvolvendo um carro elétrico nacional, que deverá ser apresentado ainda no segundo semestre. Segundo ele, o protótipo já foi construído e está sendo testado, mas é totalmente sigiloso. A reportagem não foi autorizada a fazer fotos do veículo.
Apesar de afirmar que 20 engenheiros mecânicos e 30 elétricos trabalham no projeto, não há sinal de produção na planta da Atto. O barracão, que fica num distrito industrial de Cascavel, foi visitado pela reportagem, mas encontrava-se fechado em horário comercial e não havia ninguém que pudesse responder pela empresa.
O proprietário afirmou ainda que o projeto tem parceiros nacionais e internacionais, mas não cita nomes. “Não posso divulgar nada, é segredo de estado”, afirmou. Segundo ele, a Atto receberá investimento total de R$ 1 bilhão. Apenas para efeitos de comparação, a Audi deverá investir R$ 504 milhões, através do Paraná Competitivo, para retomar a produção de veículos no estado.
Mudança de planos
Outros dois projetos que aparecem na lista de “confirmados” pelo governo – o da Mili, empresa de papéis, com valor de R$ 150 milhões, e da Tirol, companhia de laticínios, no valor de R$ 215 milhões – estão paralisados e sem prazo para serem restabelecidos.
A Mili informou que o investimento foi protelado e não há previsão para ser retomado. Já a Tirol afirmou que está evitando falar sobre o novo empreendimento, pois ainda há tramites burocráticos para sua realização. “Infelizmente ainda estamos a passos pequenos neste investimento e até o momento não temos nada definido quanto ao status do projeto, ou cronograma de obras”, informou a empresa, via assessoria.
Já a instalação da Bionovis, indústria farmacêutica de biofármacos, com aporte de R$ 500 milhões, apesar de também estar na lista de investimentos garantidos para o estado, não foi confirmada pela empresa. Um anúncio em julho do ano passado mostrou que a Bionovis se instalaria no Rio de Janeiro.