O ministro Fernando Haddad, da Fazenda, afirmou nesta quinta (23) que a proposta do Brasil de taxar os super-ricos “ganhou peso em pouco tempo” no G20, o grupo que inclui as principais economias do mundo, a União Europeia e a União Africana. A ideia de taxar bilionários é uma defesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como um meio de financiar o combate à fome global.
Durante um simpósio de tributação internacional do G20, realizado em Brasília, Haddad citou o histório de desigualdade social no Brasil e que esse avanço na proposta de tributar os super-ricos seria um exemplo das mudanças necessárias. De acordo com ele, a proposta foi rapidamente endossada por alguns países, incluindo a França.
“Fico tocado como essa proposta ganhou peso em muito pouco tempo. Temos países do G7 e da Europa se manifestando a favor. Há consciência de que algo precisa ser feito”, disse o ministro.
Ainda segundo o ministro, essa tributação precisará ser precedida e uma reforma das “velhas instituições criadas até o presente”. “Vamos ter que repensar as instituições, os organismos multilaterais, os bancos multilaterais, as relações internacionais, e a partir daí, repensar o financiamento dessa equação”, pontuou.
A pedido do governo brasileiro, o economista francês Gabriel Zucman está elaborando um relatório para o G20 sobre a taxação global de super-ricos em 2% sobre o patrimônio de cerca de 3 mil pessoas com mais de US$ 1 bilhão – seria possível gerar uma receita de US$ 250 bilhões.
Haddad acredita que a proposta pode avançar, mesmo com a oposição dos Estados Unidos. A secretária do Tesouro, Janet Yellen, já declarou que o governo do país não apoia a criação de um imposto global para a riqueza de bilionários.
“Veio para ficar”
Apesar da sinalização de que os Estados Unidos não concordam com a taxação dos super-ricos, Haddad afirmou que a proposta “veio para ficar”. A pauta é uma constante desde o começo do terceiro governo de Lula, tanto que ele a cita constantemente em seus discursos.
Isso ocorreu mais uma vez nesta quinta (23) durante a visita do presidente do Benin, Patrice Talon, ao Brasil. Lula disse a ele que “se os 3 mil bilionários do planeta pagassem 2% de impostos sobre o rendimento das suas fortunas, poderíamos gerar recursos suficientes para alimentar as 340 milhões de pessoas que, segundo a FAO, enfrentam insegurança alimentar severa na África”.
Lula também criticou o pagamento da dívida externa de países pobres, argumentando que isso prejudica investimentos essenciais. O presidente disse que “não há como investir em educação, saúde ou adaptação à mudança do clima se parte expressiva do orçamento é consumido pelo serviço da dívida”.
“Não temos a pretensão de falar por ninguém. Mas somos parceiros naturais da África e também enxergamos o mundo por lentes africanas. Isso nos leva a incorporar a perspectiva do continente à nossa atuação global, como estamos fazendo na presidência no G20. Juntamente com a União Africana, que participa pela primeira vez como membro pleno do grupo, temos alertado sobre o problema do endividamento”, completou Lula no discurso com o mandatário africano.
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