A decisão do governo da Argentina de dificultar a entrada de computadores importados no país vai favorecer a estreia da Positivo Informática, que formou joint venture com a argentina BGH para montagem de notebooks na província da Terra do Fogo. A aplicação de licenças não automáticas para entrada de equipamentos estrangeiros, em vigor desde março deste ano, vai prejudicar multinacionais que não têm fabricação local, incluindo a HP, que, segundo estimativas, lidera o mercado argentino, com 22% de participação, e a Lenovo, com cerca de 16%.
"Queremos ser líderes de mercado", afirmou ontem o brasileiro Norberto Maraschin Filho, presidente Informática Fueguina S.A (IFSA), em apresentação a um grupo de varejistas em Buenos Aires. Positivo e BGH tem 50% de participação cada uma na IFSA.
A aplicação de licenças não automáticas pela Argentina tornou mais lenta a liberação de cerca de 200 produtos importados, como têxteis, veículos, celulares e computadores. A medida prejudicou a própria exportação de micros de mesa fabricados pela Positivo no Brasil, mas, por outro lado, foi uma ajuda a mais na estratégia na área de notebooks.
A Argentina tem apenas dois fabricantes locais de notebooks a argentina Newsan, que tem uma marca própria e que monta também para terceiros, e a própria joint venture Positivo e BGH. As parceiras estão investindo US$ 50 milhões US$ 42 milhões em capital de giro e US$ 8 milhões na construção de uma nova fábrica ao lado da atual unidade da BGH, de onde estão saindo os primeiros equipamentos da joint venture.
Com previsão de ficar pronta em outubro, a nova fábrica terá capacidade máxima para fazer 1,6 milhão de notebooks por ano. Nesta primeira etapa, a empresa deve produzir 60 mil máquinas por mês. A empresa fechou um contrato para vender 279 mil máquinas para o governo argentino.
Combinação favorável
Para Helio Rotenberg, presidente da Positivo Informática e do conselho da nova empresa, a fabricante estreia no varejo em um bom momento. A combinação de incentivos fiscais para a instalação na Terra do Fogo com a maior dificuldade das multinacionais para atuar no mercado local abre as portas para uma atuação mais expressiva da Positivo no varejo da Argentina. A ideia é repetir a estratégia usada no Brasil, quando, amparada pela Lei do Bem e pelo crescimento da economia, a empresa paranaense chegou rapidamente à liderança de mercado, apenas nove meses após estrear no varejo, em 2004.
O mercado argentino de computadores vem crescendo a taxas de 18% ao ano, contra uma média de 13% a 14% no Brasil. Segundo Gustavo Castelli, CEO da BGH, a projeção é alcançar uma participação de mercado de 15% no primeiro ano de atuação. Um lote de 40 mil máquinas foi entregue para o governo argentino nesta semana e as três linhas de notebooks Positivo BGH que serão lançadas no comércio, com preços entre R$ 1.080 e R$ 1.775, devem chegar às redes de lojas argentinas em 21 de junho.
"O varejo argentino, assim como o brasileiro, é bastante concentrado e tem prazos de financiamento longos", afirma Rotenberg. Ao contrário do Brasil, onde o "mercado cinza" chegou a representar 80% do total (índice hoje estimado em 30%), na Argentina o mercado paralelo é insignificante.
Os notebooks devem representar, neste ano, 67% do mercado argentino de computadores, que deve chegar a 4,1 milhões em 2011, segundo projeções do IDC e das empresas. Em 2010, foram 3,04 milhões. Em faturamento, as vendas de computadores devem somar US$ 2,33 bilhões, contra US$ 1,9 bilhão no ano anterior.
A jornalista viajou a convite da Positivo