Foz do Iguaçu Transportadores brasileiros que operam cargas internacionais para a Argentina, Paraguai e Chile estão perdendo terreno para as empresas vizinhas. O dólar abaixo dos R$ 2, o combustível mais caro e medidas consideradas protecionistas já são responsáveis por uma queda de 40% no movimento de algumas companhias nacionais lotadas em Foz do Iguaçu, considerada o coração do Mercosul.
Entre os obstáculos mais recentes está um decreto do governo argentino, em vigor desde o dia 1º de abril, que isenta transportadores do país vizinho do pagamento do pedágio para circular pelas estradas privatizadas. Enquanto isso, brasileiros e os demais representantes do bloco continuam tendo que pagar a taxa para transitar pelo país vizinho. A medida, junto com outros entraves e restrições ao comércio, serão tema da reunião de cúpula do Mercosul, que ocorre em Assunção no dia 29.
Antes mesmo da nova legislação passar a valer, os argentinos já desfrutavam de uma vantagem garantida por um subsídio federal. Na viagem de aproximadamente 2 mil quilômetros de Curitiba a Buenos Aires, por exemplo, os veículos nacionais pagavam US$ 38,70 e os estrangeiros US$ 58,06. Apesar do pedágio representar apenas 4% do valor do frete, a diferença é grande na hora de fechar as contas e verificar os lucros e despesas.
Migração
"Posturas como essa não contribuem para o livre comércio. Criar benesses aos empresários argentinos em detrimento aos transportadores brasileiros não beneficia o Mercosul", observa o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas do Paraná (Setcepar), Fernando Klein Nunes. "O Brasil, caso não tenha sucesso no campo diplomático, deveria tomar ações semelhantes para salvaguardar os empresários brasileiros", diz.
Entidades que reúnem empresários do setor de cargas rodoviárias do Brasil esperam que a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) tome posição em relação à nova medida. "As normas que regem o Mercosul não fundamentam essa isenção (do pedágio). Pelo contrário, proíbem a discriminação entre os nacionais e os demais países-membro", defende o advogado Alejandro Perotti, especialista em comércio exterior.
O número de empresas brasileiras atuando na Argentina é praticamente três vezes maior que o de argentinas deste lado da fronteira. Estão habilitadas para prestar serviços internacionais cerca de 440 transportadoras do Brasil e 170 da Argentina. "O volume de exportações para o país vizinho é muito maior que o inverso. Por isso, é natural que o exportador procure empresas brasileiras. Mas, se for mais vantajoso operar com as argentinas, é certo que haverá uma migração", frisou Nunes.