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Cenário econômico

Protecionismo isola o Brasil

Fábrica da Bosch em Curitiba: 60% dos clientes no mercado externo são garantidos pelo uso do diesel em carros de passeio lá fora | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
Fábrica da Bosch em Curitiba: 60% dos clientes no mercado externo são garantidos pelo uso do diesel em carros de passeio lá fora (Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo)

O Brasil é um país ilhado comercialmente. No que se refere à troca de bens e serviços com outras nações, o país vive praticamente isolado do restante do mundo. Com uma economia baseada no protecionismo da indústria local e em uma série de barreiras comerciais, a produção brasileira perde competitividade e o consumidor local paga muito caro por produtos estrangeiros. Atualmente, o Brasil é o país que menos depende do comércio exterior para a geração de riquezas e o que mais cria barreiras comerciais em todo o mundo.

O isolamento é uma tentativa de atrair grandes empresas para o território nacional e proteger os produtos locais e o emprego dos brasileiros. Por outro lado, o protecionismo torna alguns negócios inviáveis no Brasil e pouco competitivos fora dele.

Considerando a corrente de comércio em relação do PIB – índice que mede o peso do comércio exterior na geração de riquezas do país –, o Brasil é o país que menos depende das trocas com o mercado externo. Segundo dados do Banco Mundial, o comércio exterior brasileiro representou 21,9% do PIB.

Na Índia e na Rússia, por exemplo, o índice ficou acima dos 41%. A corrente de comércio de México e África do Sul ultrapassou 60% do PIB, e até mesmo Argentina e Cuba, países reconhecidamente fechados para o comércio global, tiveram índices mais significativos que o Brasil, a 25% e 30%, respectivamente. "Esse é o exemplo máximo do isolamento brasileiro. Uma economia fechada em si mesma", afirma o economista Roberto Gianetti da Fonseca, presidente da consultoria Kaduna, especializada em comércio exterior.

Esta situação é fruto de uma política de vários anos que tenta preservar a indústria nacional e fomentar o consumo de bens produzidos internamente. Para garantir isso, o Brasil abusou de ações antidumping. Estas são medidas que sobretaxam produtos estrangeiros que chegam ao mercado interno com preços muito abaixo dos praticados no país.

Atualmente, existem pelo menos 115 medidas de proteção ao mercado brasileiro. "A indústria japonesa de pneus, que é referência mundial, precisa pagar US$ 4 mil de taxa por tonelada para estar presente no mercado brasileiro, por exemplo. Quem perde é o consumidor", exemplifica o professor de economia da Universidade de Brasília (UnB), Roberto Ellery.

Na média, a tarifa de importação no Brasil está a 12,9% do valor dos produtos que entrar no país, segundo um levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). "Esta taxa em 2003 era de 13,5%. Ela se manteve praticamente inalterada com o passar dos anos, enquanto outros países abriram seus mercados", afirma o economista do Ipea, Flavio Lyrio Carneiro. A alíquota média de importação de intermediários no México passou de 15,2% para 4,5% e a da China foi de 9,44% para 6,93%, por exemplo.

Exportações

Crescimento no comércio exterior foi puxado por commodities

Mesmo que discretamente, o comércio exterior brasileiro cresceu de tamanho nos últimos anos. No que diz respeito ao volume do que foi negociado com os outros países, a média anual foi 5% maior desde 2010. O aumento, no entanto, se deve exclusivamente ao boom de commodities, especialmente o maior embarque de grãos.

Em 2000, a participação dos produtos manufaturados era de 59,07% e das commodities, de 38,21%. Dados até agosto de 2014 mostram reversão desses índices, com 34,76% de manufaturados e 62,52% de commodities.

O comércio exterior brasileiro também cresceu abaixo da média mundial no período. As negociações globais nos últimos quatro anos aumentaram em, em média anual, 6,3%. Considerando apenas a corrente de comércio dos países em desenvolvimento, como o Brasil, o crescimento médio do período foi ainda mais significativo, a 8,9% por ano.

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