O ministro da Fazenda, Guido Mantega, negou ontem as acusações de protecionismo contra o Brasil, admitindo, no entanto, que o país continuará defendendo o real. "Dizem que o Brasil é um país protecionista. Eu queria protestar contra isso e dizer que essa afirmação não é algo correto", afirmou, em um discurso na conferência no "High-Growth Markets Summit 2012", que reuniu especialistas e potenciais investidores em Londres.
Mantega citou o recente ranking de países mais protecionistas elaborado pela organização Global Trade Alert, que situa o Brasil no final da lista encabeçada por Argentina, Rússia, Estados Unidos e China. "É verdade, nós tomamos algumas medidas de defesa, principalmente no âmbito cambial, algumas medidas tributárias. No entanto, perdemos de longe em relação à maioria dos países que adotaram medidas protecionistas", acrescentou.
Ao mesmo tempo, o ministro afirmou que, depois das medidas de estímulo adotadas na semana passada pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), o Brasil não permitirá que o real se valorize. "Ficaremos atentos e tomaremos as medidas necessárias. Não deixaremos que haja uma perda de competitividade, principalmente para a indústria brasileira", prometeu o titular da Fazenda. No dia 13, o Fed decidiu lançar uma nova série de compras de títulos lastreados em dívida hipotecária, por US$ 40 bilhões mensais, com o objetivo de estimular a demanda interna. "A flexibilização quantitativa não tem muita eficácia na recuperação da economia porque só acontece isoladamente e não em combinação com uma política fiscal. Contudo, ela acaba causando uma desvalorização do dólar e portanto aumenta a competitividade do produto norte-americano no exterior", afirmou.
O governo brasileiro já tomou no ano passado medidas para frear a valorização de sua moeda, que em meados de 2011 chegou a ser negociada a mais de 1,53 unidades por dólar, contra cerca de 2 atualmente, comprando reservas e aumentando as taxas a determinadas entradas de recursos. Mantega deve manter ainda hoje uma reunião particular com o ministro das Finanças britânico, George Osborne. Antes de Londres, o ministro brasileiro esteve em Paris, onde também se reuniu com seu colega, Pierre Moscovici, e com empresários interessados em investir no Brasil.