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Puxados por competições e espaço na TV, mercado de computadores gamers cresce acima da média no Brasil

Jovem disputando jogo online em computador. | Brasil Game Show/Divulgação
Jovem disputando jogo online em computador. (Foto: Brasil Game Show/Divulgação)

O mercado de computadores no Brasil voltou a ficar aquecido. Após anos apresentando grandes quedas sucessivas que culminaram em apenas 4,5 milhões de unidades vendidas em 2016, o menor número em 13 anos, o jogo virou em 2017, quando o setor se recuperou e cresceu 15%, segundo a IDC. Nos dois primeiros trimestres de 2018, o setor sustentou o crescimento, alcançando as marcas de 21% e 14%, respectivamente. O bom desempenho se deve, em parte, as compras governamentais típicas de anos eleitorais, mas também a um nicho que está fora da planilha dos analistas e que tem crescido acima da média no país: o dos computadores gamers.

“Vemos o mercado [de games] crescer muito, não só o número de jogadores, mas também a oferta e venda de produtos voltados a esse público”, diz Wellington La Falce, analista de pesquisa da IDC Brasil.

Essa observação se reflete nos números. Em volume de vendas, os computadores gamers ainda são um nicho no Brasil. Eles representaram apenas 3,75% do total vendido em 2017 no Brasil — 195 mil ante 5,2 milhões de equipamentos. Por outro lado, o crescimento é muito mais acelerado. Enquanto o mercado inteiro cresceu 15,5% entre 2016 e 2017, os computadores gamers tiveram um crescimento mais de sete vezes maior, de 116,66%, indo de 90 mil unidades em 2016 para 195 mil no ano passado. E custando mais: o tíquete médio deles é quase o triplo do da média geral — R$ 7,8 mil contra R$ 2,2 mil. Todos os dados são da IDC.

Esse potencial não passa batido pelos fabricantes, tanto os especializados quanto os generalistas que, atentos a esse movimento do mercado, começaram a apostar em linhas voltadas a gamers. “Dentro do volume total ainda é um nicho, mas são produtos que agregam muito valor, com tíquete médio muito alto. Os fabricantes enxergam na categoria uma oportunidade de aumentar a lucratividade”, explica La Falce.

A fabricante taiwanesa Acer é uma das que apostam mais forte no segmento. A empresa tem uma linha dedicada a jogos, a Nitro, e lançou em julho no país sua marca gamer, a Predator. A Acer detém 46% do mercado de games brasileiro, segundo a consultoria GFK.

A demanda dos jogadores por experiências mais refinadas foi o que motivou a investida da Acer: “No mercado de PCs, é importante atender a essa demanda segmentada porque é uma forma de expandir a atuação da marca. O mercado de PCs tradicionais está em busca de inovação, com novos formatos como os conversíveis, e o [PC] gamer é uma evolução nesse sentido”, justifica Anderson Kanno, diretor de Marketing e Vendas da empresa.

Além da Acer, outros fabricantes tradicionais já se renderam ao segmento. Algumas já apostam que o produto gamer tem apelo também entre um público que, embora passe momentos de lazer jogando, se beneficia das configurações mais robustas que a média para desempenhar atividades profissionais. O Legion Y530 da Lenovo (preço sugerido de R$ 4.599), por exemplo, tem visual sóbrio e uma campanha de marketing estrelada por jovens profissionais que usam o equipamento para jogar à noite e, durante o dia, trabalhar, tudo usando o mesmo notebook.

O que o PC gamer tem?

Como é definido um computador gamer? Em geral, ele traz configurações mais avançadas para aguentar a carga de processamento de jogos pesados, com gráfico realista e dinâmicas complexas. Entre os ingredientes estão chips gráficos especiais, telas com tempo de resposta mínimo e muita memória. O estilo também é um identificador fácil: são raros os modelos discretos como o Legion Y530. Em geral, computadores gamers têm muitas luzes coloridas, tamanhos avantajados e design espalhafatoso.

O Insane I7000, da novata 2AM, é uma espécie de Santo Graal dos computadores gamers. Com preço sugerido na casa dos R$ 49 mil, ele tem configuração de última geração e um visual peculiar: o computador fica dentro de uma espécie de redoma, com luzes e acesso facilitado a componentes internos.

A 2AM nasceu dentro da Positivo. Um grupo de funcionários da fabricante paranaense apresentou a ideia à diretoria, que já pesquisava o segmento, e recebeu sinal verde para iniciarem a operação. A Positivo atua como investidora e dá autonomia plena à marca gamer. “A 2AM é uma unidade blindada, autônoma, toma suas próprias decisões [sozinha]”, explica Felipe Oliveira, gerente de produto e marca da 2AM.

Tendo como parceiras a Nvidia e a Intel, maiores fornecedoras de chips gráficos e processadores generalistas do mundo, respectivamente, a 2AM se dedica a atender o público gamer. Esse foco se nota até mesmo nas estratégias de divulgação dos produtos, com o patrocínio de jogadores profissionais, streamers populares e eventos como o Brasil Game Cup, evento que ocorre dentro da Brasil Game Show, maior feira de games do país.

O mercado brasileiro

De acordo com a consultoria Newzoo, o mercado brasileiro de games é o 13.º do mundo e o maior da América do Sul em faturamento. Em junho de 2018, movimentou US$ 1,48 bilhão. O número engloba vendas de hardware e jogos, e inclui computadores, vídeo games e dispositivos móveis, como smartphones.

O renascimento dos computadores gamers é um fenômeno global. Diversas fontes do setor apontam a popularidade de jogos competitivos, os chamados eSports, e a transmissão por streaming desses títulos em plataformas como o Twitch e o YouTube, como os principais catalisadores dessa redescoberta da jogatina em computadores.

Representantes do setor citam, ainda, a ida do eSports à TV. O canal SporTV tem dedicado parte da sua programação a campeonatos de jogos populares, como League of Legends, DOTA 2 e CS:GO. “É uma pequena amostra de como esse mercado vem ganhando grande projeção no Brasil”, diz La Falce. Para Oliveira, a presença de eSports na TV “desmistifica a questão de jogar”.

Kanno, da Acer, também atribui o bom momento dos PCs gamers à qualidade superior da experiência que eles entregam em comparação a outras plataformas, como os video games tradicionais: “O PC tem uma experiência e qualidade de jogo que é difícil de conseguir no console. Você consegue uma qualidade de imagem superior e tempo de resposta melhor”, explica.

Acessórios pegam carona

Os computadores criam mercado para diversos tipos de acessórios que, da mesma forma, oferecem qualidade superior para jogadores mais dedicados. São produtos como teclados mecânicos, mouse, headsets, cadeiras especiais e até mesmo mousepads — aquele “tapete” que fica embaixo do mouse.

A HyperX, divisão de acessórios gamers da Kingston, é a líder global em headsets — os fones de ouvido com microfone que os jogadores usam para se comunicarem remotamente, durante as partidas ou com os espectadores das transmissões por streaming. Nos últimos anos, a marca intensificou os esforços no Brasil ao detectar a tendência de crescimento do nicho.

“Temos feito um trabalho bastante forte de marketing nos últimos anos. Mais próximo do consumidor, da distribuição e do varejo”, diz Paulo Vizaco, diretor executivo da HyperX no Brasil. “Estamos trazendo os produtos ao Brasil ao mesmo tempo em que a gente lança nos EUA. A ideia é ter sempre o portfólio completo para oferecer aos nossos fãs no Brasil”.

Segundo Vizaco, a HyperX vem crescendo acima da média do mercado. O Brasil é um dos cinco maiores países da marca, considera um dos focos para a empresa.

Para os próximos anos, a HyperX espera consolidar a liderança no segmento de headsets e ampliar o mix de produtos, incluindo os jogadores de video games domésticos (como Xbox e PlayStation) e de smartphones. “Enxergamos o mercado bem dividido entre as três [plataformas], numa faixa de 30% para cada, então a nossa ideia é realmente atingir o público que joga, independentemente da plataforma”, diz Vizaco.

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