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Perspectivas

Quais os desafios econômicos de quem governar o país a partir de 2023

Funcionários limpam vidros do Palácio do Planalto: quem governar o país a partir de 1.º de janeiro de 2023 vai enfrentar uma série de desafios econômicos. (Foto: Marcos Correa/PR)

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Quem assumir a Presidência em 1.º de janeiro terá de enfrentar, logo de cara, desafios econômicos que entrelaçam questões internas e externas: juros altos, baixo crescimento e questões complexas na área fiscal, apontam economistas ouvidos pela Gazeta do Povo.

A última ata do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) aponta que as incertezas sobre o futuro das contas públicas e as políticas de sustentação da demanda agregada podem trazer risco de alta à inflação. E considera que as medidas fiscais em tramitação no Congresso aumentariam a expectativa de inflação para 2023.

O economista-chefe do banco Modal, Felipe Sichel, aponta que se caminha para um período de fortes incertezas nos próximos meses. “O principal questionamento que se faz é de como vai ser a condução da política econômica no próximo ano.”

Questão fiscal será decisiva

Um dos fatores que será decisivo será a questão fiscal. Três dos quatro principais candidatos – Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Jair Bolsonaro (PL) e Ciro Gomes (PDT) já afirmaram que pretendem rever o teto de gastos. A medida foi implantada em 2017, no governo Michel Temer, para controlar as despesas públicas.

Segundo Eduarda Korzenowski, economista da Somma Investimentos, sem uma âncora fiscal, a tendência é de impactos negativos para a economia. “Os juros tendem a ficar mais elevados e a atividade econômica, mais fraca ainda.”

A diretora de macroeconomia da Tendências Consultoria, Alessandra Ribeiro, aponta que vai ser preciso pensar na sustentabilidade das contas públicas. “Não dá para agir como se tivesse ‘licença para matar’. Isto desencadearia um gatilho forte para o pessimismo.”

Segundo o Banco Central, nos 12 meses encerrados em abril o endividamento público chegou a 78,3% do PIB e o superávit primário do setor público, a R$ 137,4 bilhões (1,52% do PIB), a maior parte dele conseguida pelos governos estaduais e municipais).

Ela também lembra que a realidade fiscal em 2023 deve ser diferente. Atualmente, segundo ela, tem-se uma arrecadação maior em função das commodities em valores elevados e da retomada do setor de serviços após os piores impactos da pandemia da Covid-19. Mas, ao mesmo tempo, o governo está ampliando os gastos e as renúncias tributárias. “O cenário da arrecadação no próximo ano será diferente, com gastos estruturais maiores.”

O quadro fiscal pode ser prejudicado pela proliferação de medidas – já aprovadas ou em estudo – para aliviar os preços dos combustíveis, em especial por meio de redução de impostos. Em paralelo, o Senado aprovou e a Câmara deve analisar nos próximos dias uma proposta de emenda à Constituição que permite despesas de mais de R$ 41 bilhões fora do teto de gastos com uma série de benefícios, como a ampliação do Auxílio-Brasil e do vale-gás e a criação de vouchers para caminhoneiros e taxistas.

Por mais que algumas dessas medidas sejam inicialmente de caráter temporário, restritas a 2022, especialistas veem riscos de que se tornem permanentes. Foi o que ocorreu com o próprio piso de R$ 400 do Auxílio Brasil, que antes seria válido até o fim de 2022 e depois foi tornado permanente – e agora tem chances de ser elevado em mais R$ 200.

Reflexos da alta nos juros

Os economistas sinalizam que a tendência é de um crescimento mais fraco no próximo ano. Dois fatores devem contribuir para isso: os efeitos da alta nos juros e o desaquecimento da economia global.

Ao mesmo tempo em que a atividade econômica no Brasil vai estar menos acelerada, o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, avalia que a inflação deve perder força. “Dificilmente o PIB irá avançar tanto em 2023, por causa dos efeitos da política monetária.”

O Copom também deixou claro, na ata da última reunião, a decisão de reduzir sua projeção de inflação (IPCA) para 2023 de 4% para algo “em torno da meta”, que é de 3,25%, com oscilação de 1,5 ponto porcentual para cima ou para baixo.

“Diante desse cenário desafiador, o Comitê reconheceu que a manutenção da taxa Selic por um período suficientemente longo não asseguraria, neste momento, a convergência da inflação para em torno da meta no horizonte relevante de política monetária”, diz o economista-chefe da XP Investimentos, Caio Megale.Para Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veddha Investimentos, o cenário indica para uma taxa Selic de dois dígitos ao longo de todo o ano de 2023. Atualmente ela está em 13,25% ao ano e há sinalização de uma alta de mais 0,5 ponto porcentual na próxima reunião, em agosto.

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Agenda de reformas é um dos desafios econômicos

Outro desafio econômico de quem ocupar o Palácio do Planalto a partir de 2023 será o de destravar o crescimento da economia brasileira, que nos últimos dez anos cresceu à média de 0,27% ao ano, enquanto a economia mundial avançou 2,83% ao ano.

Entidades como a Confederação Nacional da Indústria (CNI) estão encaminhando propostas aos presidenciáveis, apontando para a necessidade de reformas e de preservação do arcabouço da política econômica.

Contudo, Vale não vê espaço para mudanças. “Os pré-candidatos vem mostrado um espírito pouco reformista. E ao que tudo indica, teremos um Congresso forte e, também, sem esse espírito de mudanças. Estamos perdendo um tempo precioso.”

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