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Alta do diesel mantém caminhoneiros inquietos. Qual é o risco de uma nova greve da categoria

greve dos caminhoneiros
Paralisação em rodovia em 2018: greve convocada para 25 de julho não convence a maioria dos caminhoneiros. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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O recente reajuste de 3,7% no preço do óleo diesel, anunciado na segunda-feira (5) para acompanhar o mercado internacional, voltou a gerar inquietação entre os caminhoneiros. A alta acumulada no ano já chega a 40%, encarecendo o valor do frete rodoviário e reduzindo a margem dos profissionais da estrada. Apesar disso, o risco de acontecer uma greve dos caminhoneiros por causa do aumento no combustível é baixa.

Uma nova tentativa de paralisação da categoria está marcada para o dia 25 de julho, após o fracasso do movimento grevista que deveria ter ocorrido em fevereiro. A tendência para essa convocação — anunciada semanas após o governo federal lançar o programa Gigantes do Asfalto de apoio aos profissionais da estrada — é de outra frustração para os transportadores autônomos dispostos a cruzar os braços.

A maioria dos caminhoneiros é contrária a uma paralisação nacional, segundo lideranças e representantes sindicais ouvidos pela Gazeta do Povo. Nenhuma das fontes defendeu o ato convocado pelo Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC).

O caminhoneiro Janderson Maçaneiro, o Patrola, calcula que mais de 50% dos profissionais estão insatisfeitos atualmente com questões como o preço do diesel e do frete. Ele é líder da categoria nas regiões portuárias de Itajaí (SC) e Navegantes (SC), onde atuam 3 mil transportadores autônomos.

Dos caminhoneiros insatisfeitos na região portuária catarinense, Patrola estima, contudo, que menos de 4% entrariam em greve. "Essa tentativa de paralisação é absurda, coisa sem nexo, é uma tremenda palhaçada. Tem muito caminhoneiro insatisfeito, mas só um ou outro disposto a uma paralisação", afirma.

Quem convocou a greve e por que caminhoneiros desqualificam a convocação

O motivo de Patrola e tantos outros caminhoneiros desqualificarem a convocação de greve tem explicação. A paralisação foi marcada pelo CNTRC, a mesma entidade que, em janeiro, convocou uma paralisação em 1º de fevereiro.

O presidente da entidade, Plínio Dias, critica os reajustes sobre o diesel, bem como o preço elevado do combustível, e acusa o governo de não dar voz à entidade. "O CNTRC lembra que os reajustes nos preços dos combustíveis promovidos pela Petrobras, sem explicações adequadas, ferem, inclusive, determinações do CDC (Código de Defesa do Consumidor). Simplesmente aumentam os preços e nos apresentam a conta", sustenta, em nota.

Fundada recentemente, o CNTRC é uma entidade que não encontra respaldo entre os principais líderes da categoria que dialogam com o governo. Patrola, por exemplo, é um deles. "De forma alguma eu o reconheço como líder, nem da base dele, muito menos como conselho a nível nacional. Essa situação de representação tem uma situação de fato e de direito", diz.

Por "direito", Patrola diz que quem o representa é a Confederação Nacional de Transportadores Autônomos (CNTA). "Por fato, quem representa a categoria é o Chorão [Wallace Landim], o [Gilson] Baitaca, o Jair Marques. E tem caras como o [Aldacir] Cadore, que, como eu, estamos na ponta. A gente carrega e descarrega, recebe por carta-frete, vivemos uma série de dificuldades", explica.

O líder caminhoneiro Aldacir Cadore, que também tem assento nas reuniões com o governo, é outro que desconsidera a representatividade do CNTRC. "Não reconheço o Plínio como líder. E todos os caminhoneiros que conheço também não o reconhecem", afirma.

Por que líderes caminhoneiros são contra uma nova greve

Líderes caminhoneiros reconhecem que a categoria vive no limite, mas avaliam que isso não é motivo para cruzar os braços. "Querendo ou não, nossa situação está crítica. Mas marcaram uma greve para ganhar dinheiro, não tem adesão. Se fizer greve, acaba com o país mais do que já está acabado e cria uma crise pior ainda", avalia Cadore.

Para o caminhoneiro, o governo tem entregado as promessas e permanece atuante para equacionar os problemas da categoria. Cadore afirma que recentemente ele e outros caminhoneiros estiveram reunidos no Ministério da Infraestrutura (MInfra) com o deputado federal Jerônimo Goergen (PP-RS), relator da medida provisória (MP) 1.051.

A MP cria e regulamenta o Documento Eletrônico de Transporte (DT-e), que vai unificar cerca de 20 documentos exigidos para operações de transporte de carga. Faz parte do escopo de medidas voltadas para atender a categoria pelo programa Gigantes do Asfalto. Como informou a Gazeta do Povo, as últimas ações apresentadas contemplam quase integralmente as pautas negociadas.

"Estamos tentando mudar, não é simples, mas vemos diferença. Antes [em governos anteriores], não tínhamos nem chance de dialogar", celebra Cadore. Patrola reforça. "Conversamos com o ministro [da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas] no WhatsApp. Ele próprio liga para muitos de nós", diz.

Para Patrola, uma greve agora apenas traria mais insegurança jurídica e financeira ao país. "Vivemos a queda do dólar e uma paralisação provocaria o inverso. O recuo do dólar ajuda a reduzir o valor do diesel e de insumos, como pneus, e isso diminui nossos custos com manutenção", avalia. "Quem tenta mobilizar greve agora não tem visão ampla de todo o transporte e não sabe o que está fazendo", acrescenta.

O que pensa a CNTA sobre a possibilidade de uma nova greve

A CNTA, entidade que representa os caminhoneiros, firmou em maio um acordo de cooperação técnica (ACT) com o MInfra. Desse acordo, foi criado um grupo de trabalho composto por representantes do governo e caminhoneiros. As reuniões são semanais e ocorrem com a finalidade de discutir ações multidisciplinares para a categoria.

A reunião com o deputado Jerônimo Goergen em junho, por exemplo, foi no âmbito do grupo de trabalho, com a participação da CNTA. A entidade articula junto com o governo não apenas a aprovação da MP 1.051, mas também da MP 1.050, que amplia a tolerância para pesagem da carga de caminhões em rodovias, e da proposta do MEI Caminhoneiro (PLP 147/19).

O assessor executivo da CNTA, Marlon Maues, é contrário à greve por entender que o diálogo que mantém com o governo tem possibilitado o avanço de pautas da categoria. E faz críticas aos incentivadores da paralisação.

"Eles não têm o que entregar, não têm consistência. Se não conseguem representar os interesses dos caminhoneiros, não são representantes por direito. Muitos têm agenda comercial paralela que vão dar resultado não para o caminhoneiro, mas para o interesse próprio de cada um deles", diz.

A CNTA tem atuado internamente junto a líderes para informar o trabalho feito e mitigar a paralisação. "Estamos convidando o caminhoneiro para que se informe do que acontece na vida dele mais do que transita pelo WhatsApp. Estamos fazendo um trabalho de comunicação para que procure a informação correta", explica Maues, que destaca a plataforma de ouvidoria da confederação, o CNTA Ouvindo Você.

O que diz líder da greve dos caminhoneiros de 2018 sobre nova paralisação

Embora seja capitaneada pelo CNTRC, a convocação de greve é indiretamente atribuída pelo caminhoneiro Patrola a Wallace Landim, o Chorão, presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava). Chorão foi um dos líderes da greve dos caminhoneiros de 2018.

Patrola explica que, após uma reunião no MInfra com representantes da Caixa Econômica Federal, Chorão criticou abertamente o governo e opinou sobre a "grande possibilidade" de uma paralisação" em vídeo para a categoria.

Os representantes da Caixa, segundo Patrola, apresentaram um programa de renovação de frota que contempla o transportador autônomo, tendo o imóvel próprio como garantia em um financiamento de 25 anos.

"A culpa do Plínio [convocar a greve] é do Chorão. O que a Caixa propôs é uma vergonha, contudo, ele não deveria ter expressado ou colocado nas palavras dele 'paralisação' e 'greve'. O que acontece quando uma liderança faz isso: os abutres estão só esperando o momento de fraqueza", critica Patrola.

Em defesa, Chorão diz que nunca defendeu uma greve e até entende não existir clima para isso. "Que há possibilidade, há. Mas desse jeito, eu não concordo. Hoje, não existe clima para uma paralisação. O pessoal que chama a greve são os mesmos que chamaram lá atrás", explica. "Querem usar a categoria como trampolim e colocar a população contra nós. Não concordo", complementa.

Chorão reconhece, contudo, a insatisfação em relação às propostas de uma linha de crédito para a renovação da frota. "Conversei com vários presidentes de banco e me passaram que mesmo aquele plano de manutenção de caminhão nunca existiu. Como que o governo solta mais uma [linha]? Os R$ 500 milhões [de crédito para a manutenção de veículo] foi proposta para nós, mas colocaram trava e não ofereceram o crédito", critica Chorão.

O presidente da Abrava critica, ainda, o incentivo tributário dado pela equipe econômica a grandes empresas do setor de bebidas enquanto a categoria dos transportadores autônomos ficou sem a prorrogação da alíquota zero de PIS/Cofins sobre o óleo diesel. "Estamos no limite", desabafa.

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