Desde o início do Plano Real, em 1994, o centro da política econômica foi a manutenção da estabilidade sempre traduzida como controle da inflação. Uma das expectativas criadas pela indicação do economista Guido Mantega para o ministério da Fazenda é que ele possa levar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para o topo da lista de prioridades na economia. Para isso, ele terá de vencer uma queda-de-braço com o Banco Central, órgão dirigido por Henrique Meirelles que decide os rumos dos juros.
Durante a gestão de Antônio Palocci na Fazenda, o ministério estava afinado com o BC. A meta era conquistar a estabilidade para permitir o crescimento sustentável. Para isso, a autoridade monetária não titubeou em elevar os juros bem na hora em que o PIB deslanchava, em 2004. O crescimento foi de 4,9% naquele ano e caiu para 2,3% em 2005. Uma das vozes que criticaram a queda no ritmo foi a do então presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega.
Mantega argumenta que a economia real precisa de tempo para reagir ao aumento de demanda que ocorre durante surtos de crescimento. Com investimentos em novas fábricas, equipamentos mais modernos econtratação de pessoal, as empresas conseguiriam dar conta do maior consumo e evitariam um repique inflacionário. O ministro discorda do BC em um tema crucial: o potencial que o Brasil tem para crescer.
Apesar de o BC não ter uma meta oficial de crescimento, o mercado financeiro sabe que a autoridade monetária trabalha com um "produto potencial" de aproximadamente 3,5% ao ano. É esse porcentual que o banco estima ser o ritmo máximo de expansão da economia sem que a inflação fuja da meta. E é o que deve ser obtido na média do período de 2004 a 2006. Outros países emergentes têm feito muito melhor que isso, o que levanta desconfiança sobre as contas do BC.
"Há muitas restrições para o uso do produto potencial na política econômica", diz o economista José Luís Oreiro, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR). "Ele não mostra, por exemplo, que uma alta na demanda leva a investimentos que ampliam o potencial." A capacidade medida pelo banco para dizer o quanto expandir a economia seria, portanto, uma visão de curto prazo.
Conclusão semelhante foi alcançada por um estudo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Ele mostra que o produto potencial é "elástico" porque o poder de reação da indústria é rápido a produção poderia ser ampliada em 57% sem pressão inflacionária, segundo o trabalho. "É uma questão de dar tempo e segurança para as empresas investirem", diz o diretor executivo do Iedi, Júlio Gomes de Almeida. "Se o BC fica nervoso com a pressão da demanda e aumenta os juros, essa reação é cortada."
Foi o que ocorreu em 2004. A economia aquecida fez com que a inflação subisse um pouco e o BC elevou os juros. "Com isso não surge a mesma dinâmica que existe na China, por exemplo, onde a economia está sempre perto do limite do produto potencial e os investimentos são elevados", compara o economista Dany Rappaport, sócio da Investport. Arrojo que passou longe da área econômica até agora e é defendido por Mantega.
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