O baixo crescimento da economia brasileira, com inflação alta e crédito mais caro, impactou os níveis de consumo da população e aumentou o clima de cautela entre empresários do segmento de shopping centers. Diante desse cenário, quase metade das inaugurações previstas para este ano acabou postergada.
A Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) anunciou em janeiro a expectativa de abertura de 43 empreendimentos no ano, mas diminuiu a projeção para 24, o equivalente a apenas 56% do total. Dentre as 43 unidades previstas, nove já estão em funcionamento, 15 planejam erguer as portas até dezembro e 19 ficaram para 2015 ou 2016. Não houve cancelamentos.
O volume de projetos postergados neste ano é proporcionalmente maior que no ano passado. Em 2013, a Abrasce previa 46 inaugurações, das quais 38 ocorreram de fato, ou 83% do total. Vale lembrar que 2013 teve o número recorde e empreendimentos inaugurados.
Para o presidente da Abrasce, Luiz Fernando Veiga, os adiamentos são comuns e não há crise no setor. "Muitas vezes, ocorrem atrasos nas obras ou na obtenção de licença. E também falta mão de obra de boa qualidade", explicou.
Veiga também negou falta de lojistas para ocupar todos os espaços disponíveis nos shopping centers. Segundo ele, a escassez de lojistas foi vista apenas em poucas cidades onde há mais de um shopping sendo desenvolvido, gerando uma oferta de espaços maior do que a demanda de comerciantes. "Isso é pontual. A vacância no setor está abaixo de 3%", argumentou.
O presidente da associação acrescentou que as vendas dos shoppings já se recuperaram após o período de Copa do Mundo, quando houve uma debandada de consumidores. Além disso, a previsão de alta no faturamento do setor em 2014 está mantida em torno de 8,0%, assim como o anunciado pela associação no começo do ano.
Varejo e concorrência
Na avaliação de André Accetturi, gerente de Capital Markets da consultoria imobiliária Cushman & Wakefield, o setor não está em crise, mas os empresários e investidores têm pensando mais antes de apostar em novos empreendimentos. "O adiamento de projetos é algo natural no setor. O cenário é de cautela, mas não está ruim no todo", afirmou.
Accetturi avaliou também que há uma ruptura entre o ritmo de expansão das operadoras de shopping centers e do varejo. "O fôlego de crescimento do varejo é menor", disse. Ele lembrou que os empreendedores de pequeno e médio porte sofrem com a falta de linhas bancárias e são mais suscetíveis à piora do quadro econômico nacional e à queda na demanda de consumidores. Esses fatores têm impacto direto nos planos de expansão no número de lojas, ao contrário das grandes redes varejistas, com maior capacidade de alavancagem.
Apesar dessa limitação, ele disse não acreditar que as operadoras de shopping centers já estejam sofrendo com a falta de inquilinos. "Os bons empreendimentos continuam tendo muita procura. Até porque muitas marcas internacionais têm chegado ao mercado brasileiro", comentou.
Já na opinião de Edoardo Dalla Fina, gerente de avaliação e consultoria da Colliers, há, sim, escassez de pequenos e médios varejistas. "Os donos de shoppings têm dificuldade de colocar lojistas, o que é muito influenciado pela queda no consumo e pelas dificuldades dos pequenos lojistas realizarem um investimento", afirmou.
Dalla Fina acrescentou que o menor número de inaugurações de shoppings neste ano reflete a maior demora dos empreendimentos novos para atingirem seus níveis ótimos de ocupação e vendas. "Antes isso levava de três a cinco anos. Agora temos visto essa curva mudar para cinco a sete anos", disse.
O motivo, segundo ele, é o aumento da concorrência entre os shoppings. Até algum tempo atrás, muitos desses empreendimentos reinavam sozinhos nas suas cidades, bairros ou regiões, mas de uns anos pra cá passaram a dividir consumidores com novas unidades.
A tendência para o médio prazo, na opinião do consultor da Colliers, é que as operadoras prefiram expandir os shoppings que já estão em funcionamento e têm mostrado bons resultados em vez de apostar em erguer novos projetos a partir do zero. Em um ambiente econômico mais desafiador, a preferência deverá ser pela diminuição dos riscos.
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