Passageiros da Varig tiveram ontem o segundo dia consecutivo de incertezas e decepções nos aeroportos brasileiros. Até as 18 horas, 180 decolagens foram suspensas, quando a previsão era de 356, entre trechos domésticos e internacionais seis deles no Aeroporto Internacional Afonso Pena, em São José dos Pinhais. Foram 154 cancelamentos no mercado doméstico e 26 no internacional. O número superou o de segunda-feira, quando 118 decolagens não ocorreram.
Os passageiros com bilhetes para vôos cancelados nos próximos dias terão de viajar por outras companhias, por meio de endosso, até que a Varig reestabeleça as rotas (leia mais ao lado). Ontem, aqueles que tiveram a decolagem suspensa foram acomodados em outros vôos da Varig ou de outras companhias aéreas.
Foi o que aconteceu com o estudante mexicano Christopher Tarin, ansioso para voltar para casa após dez meses no Brasil. Tarin iria até a Cidade do México pela Varig, mas a própria companhia se encarregou de colocá-lo em um vôo da Mexicana Aviación. "Espero não ter problemas para chegar em casa", disse Tarin. O estudante voou apenas o trecho doméstico pela Varig.
Por ser o segundo dia de cancelamentos, os passageiros da Varig sumiram do Afonso Pena. Os que chegavam para embarcar traziam dose reforçada de paciência. Um grupo de analistas de sistemas que voltava para São Paulo aceitou na hora embarcar num vôo para Guarulhos depois de ter o vôo para Congonhas cancelado. "Pelo menos chegaremos hoje em São Paulo", disse Carlos Morales.
Apenas os mais desavisados, como um grupo de turistas americanos, ficaram surpresos com a situação. "Teremos atraso de duas horas", disse o bombeiro aposentado Kenneth Slamon, que apesar de ter a sua rota mudada de Los Angeles para Miami, não perdeu o bom humor. "De lá pego um vôo doméstico", disse.
A Varig suspendeu a venda de novos bilhetes no Afonso Pena até a próxima-sexta feira, data limite para que o grupo de trabalhadores TGV, que comprou a empresa em leilão, deposite US$ 75 milhões e garanta o negócio. Com a falta de movimento, as funcionárias se revezavam no atendimento.
As cenas registradas em São José dos Pinhais se repetiram em diversos aeroportos em todo o país. Houve quem rezasse pelo futuro da companhia, como a dona de casa Célia Dantas, mãe e sogra de três comissários de bordo da Varig. Ontem ela foi até o Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio de Janeiro, e com uma bíblia na mão e a bandeira do Brasil na outra, se ajoelhou, rezou e chorou diante do balcão da Varig. "Só Deus salva a Varig. Por isso, não tenho vergonha de nada. Orei, chorei e creio na vitória da Varig", disse.
A situação do companhia, que já vinha cancelando vôos nas últimas semanas, se agravou esta semana. O Trabalhadores do Grupo Varig (TGV), único a oferecer uma proposta para comprar a empresa, informou esta semana que só 25 aviões da Varig estão em condições de voar, dentre as 69 em poder da companhia. Parte deles permanece parada devido a decisões judiciais que determinam sua devolução para as empresas de leasing que os alugaram à Varig. Por outro lado, a BR Distribuidora e a Infraero garantiram combustível e o direito de usar aeroportos para a empresa, mesmo sem pagamentos à vista, até sexta-feira.