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Trabalho

Quatro estados brasileiros têm menos desemprego que a média de países ricos

taxa de desemprego
Desemprego fechou on trimestre móvel encerrado em janeiro em 8,4%, segundo o IBGE (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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O Brasil é o país dos extremos. Um dos retratos é a taxa de desemprego. Em alguns estados, mais de 10% da população economicamente ativa está desempregada. Em outros, as taxas são próximas ou inferiores à média do G7, grupo que reúne alguns dos países mais ricos do mundo.

Em dezembro, a taxa média de desocupação nos países do G7 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido) foi de 3,9%. No mesmo período, quatro estados brasileiros exibiam índices abaixo desse: Rondônia (3,1%), Santa Catarina (3,2%), Mato Grosso do Sul (3,3%) e Mato Grosso (3,5%). Outras duas unidades da federação registraram desocupação inferior a 5%: Roraima (4,6%) e Rio Grande do Sul (4,6%).

Enquanto isso, os dados do IBGE mostram que nove unidades da federação encerraram o ano com desemprego igual ou superior a 10%, podendo passar de 13% em alguns casos. Na média nacional, a taxa do fim de 2022 foi de 7,9%, a menor em sete anos.

A coordenadora da Pesquisa Nacional por Amostra por Domicílios do IBGE (Pnad), Adriana Beringuy, destaca que um movimento que influenciou na queda do desemprego no país, em especial em 2022, foi a recuperação do contingente de trabalhadores nas atividades de comércio e serviços.

Porém, após dez meses consecutivos em baixa, a taxa de desocupação voltou a subir no início deste ano. A taxa média do trimestre móvel novembro-dezembro-janeiro foi de 8,4%, em resposta ao desaquecimento da atividade econômica a partir dos últimos meses de 2022. O IBGE ainda não disponibilizou dados estaduais para 2023, o que só ocorrerá na divulgação dos números do primeiro trimestre do ano.

Bom momento do agronegócio ajuda MT e MS

Um dos fatores que contribui para o baixo desemprego em alguns estados brasileiros é o agronegócio. As expectativas são favoráveis para este ano. O Bradesco projeta uma expansão de 7% no PIB agrícola e de 1% no PIB da pecuária. E o Banco Central salienta, em seu último boletim regional, que isso deve se refletir no desempenho de outras atividades.

Mato Grosso e Mato Grosso do Sul vivem essa situação. Segundo Lucas Assis, analista da consultoria Tendências, as baixas taxas de desocupação nesses estados estão associadas ao alto nível da ocupação (porcentual de ocupados na população em idade de trabalhar), acima da média nacional.

“O nível da ocupação relativamente maior nesses estados está associado ao desempenho positivo da atividade econômica local nos últimos anos”, diz.

Entre 2020 e 2022, segundo estimativas da Tendências Consultoria, as economias de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso avançaram, em média, 2,1 pontos porcentuais acima do PIB nacional.

Segundo estimativas do Banco do Brasil, o PIB do Mato Grosso cresceu 10,9% no ano passado e tem projeção de se expandir 3,2% em 2023, bem acima da média nacional – que subiu 2,9% em 2022 e deve avançar 0,9% em 2023, a julgar pelas expectativas coletadas pelo boletim Focus, do BC.

Mato Grosso do Sul, afetado por por problemas climáticos, teve um crescimento de 1,7% em 2022. A projeção para este ano é de 2,6%.

O BB aponta que, a partir de 2010, o setor industrial de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul teve crescimento significativo, impulsionado pelo aumento da produção agropecuária.

“Ambas as regiões se destacaram no cenário nacional, com Mato Grosso liderando o avanço industrial a partir de 2014. Após a pandemia de Covid-19, em 2020, houve uma desaceleração temporária, mas ambos conseguiram se recuperar rapidamente", diz relatório do banco.

Diversificação facilita a vida de SC e RS

Em Santa Catarina, que tem a segunda menor taxa de desemprego do país (3,2%), um trunfo é a economia extremamente diversificada, o que contribui para atenuar os efeitos de eventuais crises. Também tem a segunda maior taxa de participação na força de trabalho (68,3%), perdendo apenas para o Distrito Federal.

No Rio Grande do Sul, com desemprego de 4,6% ao fim de 2022, a economia diversificada pode ter ajudado a aliviar os impactos de problemas climáticos, que prejudicaram segmentos vinculados direta ou indiretamente ao agronegócio.

Em Rondônia e Roraima, outros fatores explicam o baixo desemprego. “As baixas taxas de desocupação em Rondônia e Roraima estão associadas à reduzida taxa de participação da força de trabalho, sugerindo uma busca relativamente menor por ocupação”, destaca Lucas Assis, da Tendências.

O economista também destaca que Rondônia é um dos estados com maior proporção de trabalhadores por conta própria, o que sugere condições relativamente deterioradas no mercado de trabalho local.

Onde o desemprego é maior

Do outro lado, há unidades da federação com taxas de desemprego superiores a 10%, como Acre (10%), Amazonas (10%), Paraíba (10,3%), Distrito Federal (10,3%), Rio de Janeiro (11,4%), Sergipe (11,9%), Pernambuco (12,3%), Amapá (13,3%) e Bahia (13,5%).

São taxas superiores à da Turquia (9,8%), um dos países mais pobres da OCDE e que foi afetado, em fevereiro, por terremotos que mataram milhares de pessoas.

Uma questão estrutural influencia no Nordeste, aponta Assis: “Os grupamentos de atividade mais atingidos pelas medidas de distanciamento social da pandemia da Covid-19, como alojamento, alimentação, serviços domésticos, ocupavam proporcionalmente mais pessoas [no Nordeste], em relação às demais regiões.”

A Região Norte, além de apresentar a maior taxa de informalidade do país, contava com a maior proporção de ocupados trabalhando por conta própria e a maior participação de empresas de pequeno porte, cuja manutenção das operações tornou-se particularmente difícil diante da interrupção das cadeias de suprimentos.

“Não por acaso, a recuperação do mercado de trabalho segue relativamente mais lenta nas unidades territoriais de maior vulnerabilidade econômica”, afirma o analista da Tendências.

Taxa de participação ainda não voltou aos níveis pré-pandemia

A taxa de participação no mercado de trabalho (parcela de pessoas em idade de trabalhar que estão ocupadas ou procurando ocupação) continua abaixo do nível pré-pandemia.

No trimestre encerrado em dezembro essa taxa era de 62,2%, ante 63,5%, em dezembro de 2019. O indicador estava em trajetória crescente até o fim do primeiro semestre do ano passado, quando atingiu 62,7%, mas depois recuou.

Rodolfo Margato, economista da XP Investimentos, acredita que essa dinâmica pode estar parcialmente relacionada a maiores transferências de renda do governo. Com isso, há menor incentivo à oferta de mão de obra.

Beringuy, do IBGE, diz que, além de a taxa de participação sofrer influência da dinâmica do mercado de trabalho, há um componente demográfico. “O que se observa é uma redução maior da taxa de participação dentre as pessoas de 60 anos ou mais de idade”, diz.

Na comparação com o período pré-Covid, a taxa de participação aumentou em apenas em oito unidades da federação: Pará, Amapá, Tocantins, Maranhão, Alagoas, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal.

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