Na última semana, voltou a crescer a pressão para que a presidente Dilma Rousseff substitua o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Ela vem resistindo à mudança e ressaltou em uma entrevista na segunda-feira (16) que Levy fica. Apesar do apoio público da presidente,o ministro teria boas razões para sair.
Segundo quem acompanha os bastidores da pressão sobre Levy, ele teria expressado na última semana que está perto de desistir. Além do constrangimento público de já ser considerado um ministro “com data de validade”, como expressou o ex-presidente Lula, ele não conseguiu apoio dentro do governo para colocar em andamento o prometido ajuste fiscal sem o qual não imagina haver possibilidade de recuperação da economia. Sem autonomia e com indicadores ruins, ele tem poucas boas notícias para dar depois de quase um ano no cargo. São assim, quatro boas razões para deixar o governo.
Fogo amigo
Joaquim Levy sofre há três meses com o desgaste provocado pelos boatos sobre a sua substituição que têm origem na vontade do ex-presidente Lula de substituí-lo. Haveria até um acordo para que Henrique Meirelles assumisse a Fazenda, com carta branca para atuar. A presidente Dilma vem negando a substituição e bancando Levy, mas isso não evita que o ministro seja dado como carta fora do baralho para 2016, inclusive no mercado financeiro. O clima criado nos bastidores tira a força de Levy para negociar o ajuste fiscal.
Ajuste frustrado
No fim do ano passado, o ministro da Fazenda anunciou que perseguiria um superávit primário neste ano de 1,2% do PIB. Essa meta foi revista e agora já se trabalha com um resultado de déficit primário. O governo não teve força para aprovar as medidas do ajuste fiscal, o que corroeu a confiança e aprofundou a recessão. Isso amplia a dificuldade fiscal, já que a arrecadação caiu mais do que o esperado. Nada indica que o governo vai recuperar sua capacidade de aprovar medidas polêmicas, como o retorno da CPMF. Sem isso, o plano de Levy, que começa com o ajuste, caminha bem devagar.
Indicadores ruins
Os indicadores de inflação e crescimento pioraram bastante ao longo do ano, apesar do tom levemente otimista das falas de Levy. O ministro tem muito pouco o que fazer para “virar a mesa” rapidamente e isso eleva a pressão por sua saída. Outro ministro, mesmo que seja Meirelles, terá a mesma dificuldade, mas com a vantagem de ganhar tempo para mostrar serviço.
Falta de autonomia
Joaquim Levy não assumiu o cargo com carta branca, como pede Meirelles. Isso fez com que ele tivesse atritos com outros ministros, como Nelson Barbosa, do Planejamento. O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, também é um nome que vem frustrando o mercado em sua estratégia de contenção da inflação. Em vários debates internos, Levy não foi ouvido – foi o que levou, por exemplo, o governo a apresentar um projeto de Orçamento para 2016 com déficit primário, pouco antes do rebaixamento da nota de crédito do país.
Por que fica?
Se há razões para sair, por que Levy não pede demissão? Aqui, encontramos pelo menos dois motivos: compromisso com o ajuste e a vontade de sair com a missão cumprida. Joaquim Levy acredita que tem as respostas certas para a crise e que elas funcionariam em outro cenário político.
Compromisso
O ministro da Fazenda disse que não sai até segunda ordem, ressaltando o compromisso que assumiu ao aceitar o cargo. Com várias passagens pelo setor público, Levy tem noção da importância do ajuste e não abriria mão de tentar fazê-lo enquanto for mantido pela presidente Dilma.
Currículo
Para quem estava em um cargo de comando no segundo maior banco privado do país, sair do governo pela porta dos fundos é um arranhão no currículo. Por isso pode valer a pena para Levy esperar para ver se alguma mudança no cenário político desemperra o andamento do ajuste fiscal. Se recuperar o prestígio e fizer as mudanças que pensa ser necessárias, o ministro poderia entregar o país com crescimento e inflação controlada em 2018. O difícil é haver essa mudança antes da virada do ano.
Reforma tributária promete simplificar impostos, mas Congresso tem nós a desatar
Índia cresce mais que a China: será a nova locomotiva do mundo?
Lula quer resgatar velha Petrobras para tocar projetos de interesse do governo
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast