As vendas de supermercados estão, cada vez mais, nas mãos de poucas empresas. Em 2005, as cinco maiores redes de varejo detinham 36% das receitas do setor no Brasil; em 2010, esse porcentual já havia chegado a 46%. Não há dados regionais oficiais, mas estima-se que em algumas capitais, como é o caso de Curitiba, o grau de concentração seja ainda maior. As redes Walmart, Condor, Carrefour e Pão de Açúcar detêm juntas cerca de 60% das vendas na capital e região metropolitana, segundo projeção da Associação Paranaense de Supermercados (Apras). No Paraná todo, essa concentração está entre 45% e 50%.
As fusões entre empresas do setor, que pipocaram por todo o Brasil nos últimos anos, aceleraram o processo de concentração de mercado, segundo Valmor Rovaris, superintendente da Apras. O movimento se acentuou a partir de 2004, com as compras dos ativos do Bompreço e do Sonae pelo Walmart, seguidas pela aquisição do Atacadão pelo Carrefour, em 2007, e a união de Pão de Açúcar, Ponto Frio e Casas Bahia, em 2009. "Isso fez com que as companhias que apostaram em aquisições atingissem patamares de faturamento que as distanciam muito das demais no ranking", afirma.
No Paraná, a partir do fim da década de 90, o mercado de supermercados viu trocar de mãos marcas como Coletão e Mercadorama, compradas pelo Sonae e posteriormente adquiridas pelo Walmart; e Parati, que foi incorporada pelo Pão de Açúcar.
Em termos globais, o Brasil ainda está longe de apresentar o grau de concentração de países como França (70%), Portugal (63,2%) e Reino Unido (63%). Mas as apostas são de que mais fusões devem vir por aí, mesmo depois da frustrada tentativa de fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour.
Negociações
Há quem aposte que a suspensão do negócio entre a varejista brasileira e a francesa deve dar origem a mais movimentação de mercado, inclusive com uma reação mais agressiva da rival norte-americana Walmart. "Saindo ou não o negócio entre Pão de Açúcar e Carrefour, já se sabe que o Walmart deve ir às compras. Agora, inclusive, como candidato a adquirir o Carrefour no Brasil", afirma Eugenio Foganholo, da Mixxer Consultoria, especializada em varejo.
A última aquisição do Walmart foi em 2005, quando o grupo comprou os supermercados do Sonae no Brasil. A operação lhe garantiu o posto de rede com maior número de lojas no Paraná são 52. Para esse ano, a empresa anunciou planos de abrir 80 novas lojas no país, com investimentos de R$ 1,2 bilhão e foco em formatos de lojas para as classes C e D.
Por trás dessa estratégia está a disputa por um mercado bilionário, que cresceu anualmente entre 7,5% e 8% nos últimos quatro anos, lembra Rovaris. No ano passado, o varejo brasileiro somou R$ 201,6 bilhões em receita 73% dela proveniente do setor de supermercados.
"A consolidação é algo inexorável no varejo brasileiro e vai provocar mudanças no mercado", diz Ramiro Gonçalez, professor da FIA/USP e da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Para o consumidor, no entanto, dificilmente os ganhos de escala se traduzirão em preços menores, apesar do maior poder de barganha com os fornecedores. Em geral, esses ganhos são convertidos em margens maiores. "A tendência é que haja também a commoditização do suprimento, com menor sortimento de produtos regionais, por exemplo, e serviços", afirma Gonçalez.
A concentração não é necessariamente ruim. Em mercados concentrados, mas que têm pelo menos dois ou três concorrentes bastante competitivos, ela é favorável, porque exige ganhos de eficiência das empresas. "Uma concentração muito grande é tão ruim quanto um mercado muito pulverizado. Neste último caso, não há escala e nem eficiência", diz o economista.
Interatividade
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