Fusão de redes rivais aumenta o poder de barganha com os fornecedores, mas essa economia não é, necessariamente, repassada aos consumidores| Foto: Rodolfo Buhrer/Arquivo /Gazeta do Povo

Consolidação

Fusões dominam eletromóveis

As redes que vendem eletrodomésticos e móveis – "eletromóveis", no jargão do setor – vivem um cenário ainda mais agressivo de fusões que o visto entre os supermercados. Segundo Eugenio Foganholo, da Mixxer Consultoria, no setor brasileiro de eletromóveis já há uma concentração da ordem de 60%, principalmente depois da união do Pão de Açúcar, Ponto Frio e Casas Bahia e da fusão da Ricardo Eletro, de Minas Gerais, com a Insinuante, da Bahia. No mês passado, o Magazine Luiza reagiu e comprou a rede Baú, com 121 lojas.

"Embora existam grandes negócios em curso no setor de supermercados, no caso dos eletromóveis as fusões estão ocorrendo em uma velocidade maior", diz Foganholo. Segundo ele, nesse cenário as redes de pequeno porte ficam em uma situação de fragilidade, com pouco poder de negociação com fornecedores. Além disso, mais robustas financeiramente, as grandes conseguem oferecer prazos de financiamento mais longos. (CR)

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As vendas de supermercados estão, cada vez mais, nas mãos de poucas empresas. Em 2005, as cinco maiores redes de varejo detinham 36% das receitas do setor no Brasil; em 2010, esse porcentual já havia chegado a 46%. Não há dados regionais oficiais, mas estima-se que em algumas capitais, como é o caso de Curitiba, o grau de concentração seja ainda maior. As redes Walmart, Condor, Carrefour e Pão de Açúcar detêm juntas cerca de 60% das vendas na capital e região metropolitana, segundo projeção da Associação Paranaense de Supermercados (Apras). No Paraná todo, essa concentração está entre 45% e 50%.

As fusões entre empresas do setor, que pipocaram por todo o Brasil nos últimos anos, aceleraram o processo de concentração de mercado, segundo Valmor Rovaris, superintendente da Apras. O movimento se acentuou a partir de 2004, com as compras dos ativos do Bompreço e do Sonae pelo Walmart, seguidas pela aquisição do Atacadão pelo Carrefour, em 2007, e a união de Pão de Açúcar, Ponto Frio e Casas Bahia, em 2009. "Isso fez com que as companhias que apostaram em aquisições atingissem patamares de faturamento que as distanciam muito das demais no ranking", afirma.

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No Paraná, a partir do fim da década de 90, o mercado de supermercados viu trocar de mãos marcas como Coletão e Mercadorama, compradas pelo Sonae e posteriormente adquiridas pelo Walmart; e Parati, que foi incorporada pelo Pão de Açúcar.

Em termos globais, o Brasil ainda está longe de apresentar o grau de concentração de países como França (70%), Portugal (63,2%) e Reino Unido (63%). Mas as apostas são de que mais fusões devem vir por aí, mesmo depois da frustrada tentativa de fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour.

Negociações

Há quem aposte que a suspensão do negócio entre a varejista brasileira e a francesa deve dar origem a mais movimentação de mercado, inclusive com uma reação mais agressiva da rival norte-americana Walmart. "Saindo ou não o negócio entre Pão de Açúcar e Carrefour, já se sabe que o Walmart deve ir às compras. Agora, inclusive, como candidato a adquirir o Carrefour no Brasil", afirma Eugenio Foganholo, da Mixxer Consultoria, especializada em varejo.

A última aquisição do Walmart foi em 2005, quando o grupo comprou os supermercados do Sonae no Brasil. A operação lhe garantiu o posto de rede com maior número de lojas no Paraná – são 52. Para esse ano, a empresa anunciou planos de abrir 80 novas lojas no país, com investimentos de R$ 1,2 bilhão e foco em formatos de lojas para as classes C e D.

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Por trás dessa estratégia está a disputa por um mercado bilionário, que cresceu anualmente entre 7,5% e 8% nos últimos quatro anos, lembra Rovaris. No ano passado, o varejo brasileiro somou R$ 201,6 bilhões em receita – 73% dela proveniente do setor de supermercados.

"A consolidação é algo inexorável no varejo brasileiro e vai provocar mudanças no mercado", diz Ramiro Gonçalez, professor da FIA/USP e da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Para o consumidor, no entanto, dificilmente os ganhos de escala se traduzirão em preços menores, apesar do maior poder de barganha com os fornecedores. Em geral, esses ganhos são convertidos em margens maiores. "A tendência é que haja também a ‘commoditização’ do suprimento, com menor sortimento de produtos regionais, por exemplo, e serviços", afirma Gonçalez.

A concentração não é necessariamente ruim. Em mercados concentrados, mas que têm pelo menos dois ou três concorrentes bastante competitivos, ela é favorável, porque exige ganhos de eficiência das empresas. "Uma concentração muito grande é tão ruim quanto um mercado muito pulverizado. Neste último caso, não há escala e nem eficiência", diz o economista.

Interatividade

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