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Crise

Quebradas, grandes livrarias brasileiras lutam para se reerguer

Livraria Cultura no Shopping Curitiba. | Henry Milleo/Gazeta do Povo
Livraria Cultura no Shopping Curitiba. (Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo)

A Livraria Saraiva divulgou na última segunda-feira (12) os resultados do terceiro trimestre e confirmou que a crise do mercado editorial a atingiu em cheio. A varejista dobrou seu prejuízo no período, que chegou a R$ 66,6 milhões no trimestre. Em 2017, ele era de 33,4 milhões. Seu lucro líquido caiu 33,5% na comparação ano a ano — foi de R$ 81,2 milhões no último trimestre e de R$ 122 milhões no mesmo período do ano passado.

Um “prólogo” dessa situação já vinha sendo desenhado desde o início do ano. Ela não compareceu à Bienal do Livro de São Paulo deste ano, maior evento do setor no país e onde tinha um dos maiores estandes. No último mês, ela anunciou o fechamento de 20 das 84 lojas abertas no Brasil; no ano passado, eram 111 unidades em funcionamento.

O grande problema que enfrenta é o endividamento, de R$ 164 milhões líquidos no terceiro trimestre. É um saldo devedor 34% mais baixo do que o apresentado no trimestre anterior, de R$ 249 milhões, mas que segue sem perspectivas de ser quitado considerando que o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) da varejista ficou em R$ 49 milhões negativo, 90% maior do que o apresentado um ano antes.

A grande concorrente da Saraiva no país, Livraria Cultura, também está em mais lençóis e entrou com pedido de recuperação judicial depois de fechar todas as lojas da Fnac no Brasil, com dívida na casa dos R$ 285 milhões.

Ambas as redes de livrarias começaram a ter problemas também com editoras por falta de pagamento. As editoras Mythos, especializada em histórias em quadrinhos, e a Bookwire, a maior de livros digitais, deixaram de distribuir seus títulos às gigantes por conta de calote.

É uma situação preocupante também para as editoras já que, juntas, a Saraiva e Cultura respondem por 40% das vendas de livros no país.

Elas tentam reverter a situação para não seguirem ladeira abaixo: no último dia 6, o Sindicato Nacional das Editoras de Livros (Snel) convocou uma reunião com a Saraiva para tentar renegociar as dívidas, mas acabou recusando o acordo proposto, de que 45% da dívida fosse convertida em ações e debêntures, que o restante fosse quitado em 120 parcelas e que cada credor recebesse R$ 15 mil.

A tendência, com a recusa do acordo, é de que a Saraiva também acabe entrando em recuperação judicial, tal como a Cultura.

O que explica a crise?

Investimentos que não deram certo, promoções exageradas, a crise econômica e o fortalecimento da Amazon no mercado brasileiro são alguns dos fatores que, juntos, fizeram com que as empresas chegassem à beira do abismo.

A abertura de megastores e a inclusão de eletrônicos no catálogo, que exigiram um grande montante investido, não trouxeram retorno. A estratégia de oferecer grandes descontos, de até 20%, em livros recém-lançados e best-sellers para “enfrentar” a Amazon no mercado, somado ao encolhimento da receita com venda de livros — de 20% entre 2015 e 2017 — impossibilitaram que a contas ficassem no azul.

As empresas são as duas maiores players do mercado editorial brasileiro, mas dizer que existe uma crise no “mercado de livros”, entretanto, é errado: neste ano, ele cresceu 5,7% e teve aumento de 9,3% no faturamento, segundo o Snel. A perspectiva é de que se veja um “bom fechamento de ano”.

Tentativas

No terceiro trimestre, a Saraiva teve queda de 11,7% nos custos operacionais — e deve continuar se esforçando para diminuir ainda mais. Junto com os resultados e fechamento de lojas, ela anunciou um corte de 700 funcionários e que deixará de vender eletrônicos, como smartphones e notebooks. Eles passarão a ser oferecidos em um “marketplace próprio”.

A estratégia da empresa continua sendo de investir e focar na transformação digital da companhia, expandindo seu marketplace próprio, e também na venda omnicanal, integrando as vendas digitais e físicas.

Essa segunda é uma tendência do varejo no geral e, neste ano, já tem dado bons resultados para a Saraiva: o serviço Click & Collect, em que o cliente compra no e-commerce e retira os produtos em uma loja física da Saraiva, já corresponde a 18,4% dos pedidos do site. Além disso, dos clientes que o escolhem, 2% realizam uma compra adicional nas lojas ao retirá-los.

A Cultura, por sua vez, pretende se transformar em uma “companhia digital”. Em agosto, executivos da empresa comentaram sobre a criação de um centro de inovações que tem trabalhado no desenvolvimento de aplicativos, “business intelligence” e mudanças para o marketplace. A expectativa é de que, até 2020, 80% da receita venha de canais digitais.

Junto das editoras, as livrarias agora pretendem limitar em 10% o desconto oferecido em lançamentos de livros durante seu primeiro ano de venda, tal como faz mercado editorial francês. Um pleito das associações já está na Presidência. Dados os números recentes, entretanto, é necessário que os esforços sejam ainda maiores.

Na última quarta-feira (14), as ações da Saraiva tiveram queda de 0,96%. No acumulado do ano, ela apresenta baixa de 49,13%. 

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