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Queda do real assusta investidor e adia negócios

A acentuada desvalorização da moeda brasileira está dando um novo golpe na atividade de fusões e aquisições no país, que registra seu pior ano em uma década.

Apenas alguns meses atrás, negociadores em alguns dos maiores bancos de investimento do Brasil, como o Bradesco BBI e o Goldman Sachs, acreditavam que uma queda gradual do real impulsionaria a atividade, com os custos de aquisição recuando em dólares para fundos de private equity e fundos soberanos com caixa abundante.

Em vez disso, o real despencou abruptamente. Com a economia em recessão, a inflação a 9,5% e o mergulho da confiança empresarial, o real perdeu 33% de seu valor ante o dólar até o momento e, nesta semana, foi negociado em mínimas históricas, em termos nominais.

Como resultado, empresas de aquisições estão pisando em ovos e multinacionais estão levando mais tempo que o normal para executar o trabalho de “due-diligence” ou negociar aquisições no Brasil, disseram participantes do setor.

Neste ano, as companhias anunciaram transações de fusões e aquisições no Brasil no valor de R$ 24,3 bilhões, menor patamar em uma década, com queda de 45% ante um ano antes, segundo a Thomson Reuters. Até o momento, 410 negócios foram anunciados no Brasil neste ano, pouco abaixo das 413 transações do mesmo período de 2014.

“Investidores se preocupam com a possibilidade de o real se desvalorizar ainda mais, em particular após terem assinado um cheque de valor alto em reais”, disse Daniel Wainstein, que comanda a unidade brasileira da Greenhill & Co. “Como a maior parte dos investidores acompanha sua performance em dólares, uma desvalorização pode reduzir significativamente seus potenciais retornos.”

Acordos que estão demorando mais para fechar incluem a planejada venda pela empresa de medicamentos e bens de consumo Hypermarcas de sua divisão de fraldas, com os interessados questionando cada vez mais seus retornos e apelo junto a consumidores, disse uma fonte com conhecimento do processo.

Outros incluem os esforços da Petrobras para vender uma rede de postos de gasolina na América do Sul, e planos da empresa de engenharia OAS – que está em meio a uma recuperação judicial e envolvida na Operação Lava Jato – de vender sua fatia de 24,4% na empresa de infraestrutura Invepar.

Um boom de uma década que trouxe centenas de bilhões de dólares em investimentos degringolou nos últimos anos, e 2015 tem sido particularmente ruim. Ofertas de ações e bônus praticamente foram interrompidas e, na semana passada, a Bovespa foi ultrapassada pela bolsa do México como o principal bolsa de ações da América Latina pela primeira vez desde 2003.

“Pegamos nossas pastas de trabalho e fizemos um tour pelo mundo lançando operações com a ideia de que o Brasil finalmente havia se tornado atrativo em dólares”, disse Carolina Lacerda, diretora da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). “Já é setembro e muito menos acordos que esperávamos foram concluídos. Tem sido ruim”.

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