Os mercados globais tiveram ontem um dos piores dias desde os atentados de 11 de setembro de 2001 e do estouro da bolha da internet. O pessimismo seguiu o final de semana que culminou no fim da história independente do Lehman Brothers e do Merrill Lynch, respectivamente quarto e terceiro maiores bancos de investimento dos EUA.
A reorganização dos bancos de investimento e a possibilidade de quebra da AIG (American International Group), a maior seguradora do mundo e parceira no Brasil do Unibanco, levaram ao maior movimento de aversão ao risco desde que estourou a crise das hipotecas "subprime" (segunda linha), em meados de 2007.
Mesmo fora do epicentro da crise, a Bovespa desabou 7,59% ontem, e liderou as perdas entre todas as bolsa de valores do planeta. O dólar subiu 1,52% e voltou a R$ 1,808.
Nos EUA, a Bolsa de Nova Iorque teve perdas de 4,42% no índice Dow Jones e de 4,71% no S&P 500, levando a uma perda estimada em US$ 600 bilhões no valor de mercado das empresas americanas.
Em ação coordenada com o Banco da Inglaterra, o BC Europeu colocou mais de US$ 50 bilhões nos mercados, mas não conseguiu evitar o pânico nas bolsas a baixa foi de 3,92% em Londres, de 2,74% em Frankfurt e de 3,78% em Paris (veja quadro na página 20).
Na Ásia, o BC chinês anunciou o primeiro corte na taxa de juros desde fevereiro de 2002 e decidiu reduzir os depósitos compulsórios, medida inédita desde 1999. Os mercados de China, Japão e Coréia do Sul estiveram fechados por conta de feriado local.
Sem o socorro do governo americano, fracassaram as negociações para a venda do Lehman Brothers, que entrou ontem com um pedido de concordata, a maior da história. O Merrill Lynch confirmou que será vendido ao Bank of America por cerca de US$ 50 bilhões, em uma operação que envolverá apenas a troca de ações.
A maior preocupação ontem, porém, era com o futuro da AIG, a maior seguradora do mundo, que lutava para levantar dinheiro e manter suas atividades.
O Fed ampliou sua linha emergencial de crédito para instituições em dificuldades de US$ 175 bilhões para US$ 200 bilhões semanais. Também informou que vai ser menos exigente nas garantias que costuma exigir das instituições. Pela primeira vez, vai aceitar inclusive títulos da dívida brasileira.
Previsões
Entre os analistas, há diferentes graus de pessimismo sobre o atual momento. O economista Nouriel Roubini, que previu a crise, assustou o mercado ao afirmar que o Morgan Stanley e o Goldman Sachs devem seguir o mesmo caminho do Lehman e do Merril Lynch.
Outros, como Benton Gup, autor do livro "Too Big To Fail" (grande demais para quebrar) afirma que o colapso agora deve atingir instituições menores. "Vamos ver bancos indo à bancarrota. Mas pequenos."
Socorro
O presidente dos EUA, George W. Bush, e o secretário do Tesouro, Henry Paulson, deixaram em aberto qual será a política futura (de socorro ou não) a outros bancos com perspectiva de quebrar.
Depois de emprestar US$ 29 bilhões para o JPMorgan comprar o Bear Stearns, em março, e não cogitar fazer isso "nem uma vez" no caso do Lehman Brothers para não ser "leviano" com o dinheiro dos contribuintes, Paulson disse que os dois casos são "muito diferentes".
O presidente Bush, que está no cargo há quase oito anos, declarou: "Em curto prazo, ajustes nos mercados financeiros podem ser dolorosos. A longo prazo, estou confiante de que nossos mercados de capitais são flexíveis e resilientes e podem enfrentar esses ajustes".