Mantega diz estar tranqüilo

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, manifestou tranqüilidade com o quadro econômico e financeiro do Brasil, apesar de reconhecer que houve piora da crise financeira nos Estados Unidos. "Não devemos nos precipitar. Estou tranqüilo, seguro de que poderemos enfrentar uma crise de mais longa duração e mais profunda do que imaginávamos. Hoje, o Brasil é um outro país, bem mais desenvolvido que no passado, com fundamentos macroeconômicos mais sólidos, com US$ 200 bilhões de reservas cambiais. Não devemos nos impressionar com um ou dois dias (de tensão no mercado). O problema é lá, e não aqui. Não devemos tomar nenhuma medida precipitada porque a situação no Brasil está sob controle."

O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, por sua vez, disse que está monitorando a crise financeira internacional cuidadosamente. "O Brasil está preparado para enfrentar uma situação adversa dos mercados internacionais", afirmou. Ele lembrou que as autoridades americanas têm atuado de maneira decidida. "O Banco Central do Brasil está em contato permanente com seus pares de outros países e monitorando tudo com muita atenção", avaliou.

Conselho

Em Brasília, no fim da tarde, Mantega recomendou aos investidores que não se desfaçam de suas posições no mercado neste momento. Segundo ele, esta não é a hora para precipitações. "Para o investidor, para o correntista, minha recomendação é que nada deve ser feito. Devem-se manter as posições porque, passado este momento, tudo volta ao normal", disse Mantega. Ele destacou ainda que o Brasil é um porto seguro no meio desta crise e, ao contrário de outros países, sairá fortalecido deste período de volatilidade.

Tufão

A forte queda da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), de 7,59%, e a alta de 1,52% do dólar, já na casa dos R$ 1,80, causaram pânico até mesmo entre investidores mais otimistas, que acreditavam na recuperação dos mercados. Apesar do tufão, especialistas concordam com Mantega e recomendam que se evite o pânico. Para eles, quem comprou ações deve pensar com um horizonte de longo prazo, como "sócio" da companhia. "O investidor que compra um papel também busca dividendos e participação nos lucros, e isso não é afetado", diz a professora de finanças pessoais da Fundação Getulio Vargas (FGV) Myrian Lund.

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Os mercados globais tiveram ontem um dos piores dias desde os atentados de 11 de setembro de 2001 e do estouro da bolha da internet. O pessimismo seguiu o final de semana que culminou no fim da história independente do Lehman Brothers e do Merrill Lynch, respectivamente quarto e terceiro maiores bancos de investimento dos EUA.

A reorganização dos bancos de investimento e a possibilidade de quebra da AIG (American International Group), a maior seguradora do mundo e parceira no Brasil do Unibanco, levaram ao maior movimento de aversão ao risco desde que estourou a crise das hipotecas "subprime" (segunda linha), em meados de 2007.

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Mesmo fora do epicentro da crise, a Bovespa desabou 7,59% ontem, e liderou as perdas entre todas as bolsa de valores do planeta. O dólar subiu 1,52% e voltou a R$ 1,808.

Nos EUA, a Bolsa de Nova Iorque teve perdas de 4,42% no índice Dow Jones e de 4,71% no S&P 500, levando a uma perda estimada em US$ 600 bilhões no valor de mercado das empresas americanas.

Em ação coordenada com o Banco da Inglaterra, o BC Europeu colocou mais de US$ 50 bilhões nos mercados, mas não conseguiu evitar o pânico nas bolsas – a baixa foi de 3,92% em Londres, de 2,74% em Frankfurt e de 3,78% em Paris (veja quadro na página 20).

Na Ásia, o BC chinês anunciou o primeiro corte na taxa de juros desde fevereiro de 2002 e decidiu reduzir os depósitos compulsórios, medida inédita desde 1999. Os mercados de China, Japão e Coréia do Sul estiveram fechados por conta de feriado local.

Sem o socorro do governo americano, fracassaram as negociações para a venda do Lehman Brothers, que entrou ontem com um pedido de concordata, a maior da história. O Merrill Lynch confirmou que será vendido ao Bank of America por cerca de US$ 50 bilhões, em uma operação que envolverá apenas a troca de ações.

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A maior preocupação ontem, porém, era com o futuro da AIG, a maior seguradora do mundo, que lutava para levantar dinheiro e manter suas atividades.

O Fed ampliou sua linha emergencial de crédito para instituições em dificuldades de US$ 175 bilhões para US$ 200 bilhões semanais. Também informou que vai ser menos exigente nas garantias que costuma exigir das instituições. Pela primeira vez, vai aceitar inclusive títulos da dívida brasileira.

Previsões

Entre os analistas, há diferentes graus de pessimismo sobre o atual momento. O economista Nouriel Roubini, que previu a crise, assustou o mercado ao afirmar que o Morgan Stanley e o Goldman Sachs devem seguir o mesmo caminho do Lehman e do Merril Lynch.

Outros, como Benton Gup, autor do livro "Too Big To Fail" (grande demais para quebrar) afirma que o colapso agora deve atingir instituições menores. "Vamos ver bancos indo à bancarrota. Mas pequenos."

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Socorro

O presidente dos EUA, George W. Bush, e o secretário do Tesouro, Henry Paulson, deixaram em aberto qual será a política futura (de socorro ou não) a outros bancos com perspectiva de quebrar.

Depois de emprestar US$ 29 bilhões para o JPMorgan comprar o Bear Stearns, em março, e não cogitar fazer isso "nem uma vez" no caso do Lehman Brothers para não ser "leviano" com o dinheiro dos contribuintes, Paulson disse que os dois casos são "muito diferentes".

O presidente Bush, que está no cargo há quase oito anos, declarou: "Em curto prazo, ajustes nos mercados financeiros podem ser dolorosos. A longo prazo, estou confiante de que nossos mercados de capitais são flexíveis e resilientes e podem enfrentar esses ajustes".