A queda no consumo das famílias, um dos destaques negativos do PIB do primeiro trimestre, passou a afetar com mais intensidade a indústria brasileira em abril. Segundo dados divulgados nesta terça-feira (2) pelo IBGE, o setor encolheu 1,2% naquele mês, frente a março, a terceira queda seguida nesse tipo de comparação.
No mesmo período, a produção dos chamados bens semi e não duráveis, como alimentos e vestuário, encolheu 2,2%, pior resultado desde julho de 2013, quando a queda foi de 3,7%. Para analistas, o resultado reflete a piora do mercado de trabalho, que começa a impactar não só a demanda por bens que dependem do crédito, mas também as compras do dia a dia.
Não é a primeira vez que o segmento apresenta dados negativos, mas a perda se intensificou. No ano passado, quando a indústria fechou o ano com queda de 3,2%, a produção de bens semi e não duráveis encolheu só 0,2%. Já no acumulado do ano até abril, o segmento tem resultado pior que a média: queda de 6,8% contra recuo médio de 6,3%.
“O que chama atenção é essa maior magnitude de queda dos semi e não duráveis, mais atrelada em relação ao consumo interno e à renda disponível menor, além dos preços altos. Até o fim do ano passado, havia alguns grupamentos da categoria, como alimentos e setor farmacêutico, com resultado positivo”, destaca André Macedo, gerente da Pesquisa Industrial Mensal (PIM) do IBGE.
Relatório do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) também destaca a piora no desempenho do segmento. “Nos setores de bens de capital e de bens duráveis, a crise é notadamente drástica. É no setor de bens de consumo semi e não duráveis que a crise industrial adicionou, neste ano, um novo agravante. É neste setor que se observa diretamente a queda do consumo das famílias brasileiras.”
Na comparação com abril do ano passado, os números também são negativos. Na média, a indústria recuou 7,6%, completando uma sequência de 14 quedas seguidas nesse tipo de cálculo. Nesse período, a produção de bens semi e não duráveis caiu 9,3%, mas está longe de ser a maior contribuição negativa: com queda de 24%, o segmento de bens de capital, importante indicador de investimentos, puxou o resultado para baixo.
Para economistas, o cenário deve piorar no segundo trimestre. “A gente não vê uma reversão para esse ano. No segundo trimestre, a gente espera uma contração maior, em parte por causa de uma produção industrial um pouco pior. A confiança tanto de consumidor, como do empresário, vem caindo”, destaca Natália Cutarelli, economista do banco ABC Brasil.