A década de ouro do varejo, que teve crescimento acima de 5% entre 2004 e 2014, não só acabou como atingiu com força o segmento de shoppings centers. Com a crise econômica e a queda no consumo, a situação financeira dos lojistas piorou, a taxa de áreas ociosas nos empreendimentos inaugurados nos três últimos anos aumentou e a maioria dos executivos do setor já prevê um crescimento abaixo da inflação para este ano.
INFOGRÁFICO: Crise de vendas nos shoppings do Brasil
Relatório do banco Credit Suisse mostra que quase 32% das grandes redes varejistas instaladas em shoppings estão com dificuldades financeiras. Entre as marcas pesquisadas, 6,6% estão em estado de recuperação judicial, com dívidas acima de R$ 2 milhões. Este grupo representa mais de 400 pontos de venda no país, a maioria do ramo de vestuário.
O grupo varejista GEP, por exemplo, dono das marcas GAP, Luigi Bertolli e Cori, tem 97 lojas no país, a grande maioria em shoppings centers. As dívidas passam de R$ 500 milhões e o pedido de recuperação judicial foi inevitável, já que, segundo o grupo, a operação de algumas unidades se tornou inviável com a queda no faturamento e o alto custo dos aluguéis.
Se a crise está afetando as grandes marcas, os pequenos e médios lojistas sentem ainda mais o momento econômico adverso, sendo muitas vezes obrigados a fechar as portas de seus estabelecimentos
Um exemplo é a loja curitibana de artigos vintage Certas Coisas. Em fevereiro deste ano, a empresa fechou as unidades que tinha nos shoppings Crystal e Pátio Batel e ficou somente com a matriz, uma loja de rua no bairro Juvevê, em Curitiba. “Na rua é muito melhor porque o custo é um terço do shopping”, explica o proprietário Aloyr Sabbag Neto.
Segundo pesquisa do Ibope, há 12,2 mil lojas sem uso nos 498 shoppings em operação no país. A dificuldade em alugar os pontos comerciais é maior entre os empreendimentos inaugurados depois de 2012, que têm uma taxa média de vacância (porcentual de unidades desocupadas) de 45% contra 9,1% dos projetos que estão há mais tempo no mercado.
Para Luiz Alberto Marinho, sócio-diretor da GS&BW, consultoria especializada em varejo, a recessão econômica não é somente a única explicação para a crise dos shoppings. O especialista argumenta que a explosão de centros comerciais construídos nos últimos anos também contribuiu para o agravamento do setor. “Os shoppings inaugurados nos últimos anos foram dimensionados para uma realidade de mercado que não existe mais. Esses projetos vão ter um tempo maior de maturação”, diz.
Promoções e eventos para driblar a crise
Os shoppings têm se organizado para tentar manter o fluxo de compras e reduzir o número de lojas fechadas. A superintendente da Associação Brasileira de Shoppings Centers (Abrasce), Adriana Colloca, afirma que os empreendimentos estão investindo em eventos, promoções e mix de serviços para atrair os consumidores.
As estratégias, porém, sozinhas não são suficientes. O consultor do Sindicato dos Lojistas de Shoppings Centers de Curitiba (Sindishopping), Nelson Barbalat, diz que a curva de venda está para baixo há dois anos e que os comerciantes estão tendo de adequar custos, espremer margens e demitir funcionários. “Não contratamos pessoal extra para o fim do ano e quem contratou não permaneceu com os funcionários.”
Outra estratégia comum dos shoppings neste período de crise é a renegociação de contratos, com condições mais atrativas para os lojistas. Mas, segundo a gerente de marketing do Shopping Palladium, Maria Aparecida de Oliveira, a ação só surte efeito no caso dos lojistas que fazem o dever de casa, ou seja, que investem na gestão do estabelecimento para tentar impulsionar as vendas.
“Desconto não resolve a vida do lojista, o que resolve é aumentar as vendas”, afirma. Segundo ela, o shopping foca em capacitar os comerciantes, principalmente os pequenos empresários, para ajudá-los a reduzir custos, gerenciar estoques e melhorar o atendimento e as vitrines.