Com a capacidade de distribuição do Gasoduto Bolívia-Brasil no Sul do país praticamente esgotada, o setor produtivo do Paraná precisa de alternativas para que a falta de abastecimento no futuro não atrapalhe o desenvolvimento industrial do estado. Em função deste panorama, uma delas deve ser acelerada: o estado planeja construir um terminal de regaseificação de gás natural liquefeito (GNL) em Paranaguá e um duto ligando o porto a Araucária. A ideia é importar o produto da Rússia, processá-lo no terminal e distribuir pelo estado até 2017.
O plano não é de hoje, mas a alternativa só se mostrou viável com a queda do preço internacional do gás nos últimos anos. "Com o aumento da oferta mundial, é possível fazer esta operação a um preço competitivo", garante o presidente da Compagas, Luciano Pizzatto. Estima-se que seja possível trazer o combustível da russa Gazprom no mesmo patamar dos U$S 12 por MMBTU cobrados pela Petrobrás hoje.
A fase inicial do projeto já saiu do papel. A licença ambiental para que o gasoduto seja puxado do litoral está correndo deve ser aprovada até o final do ano e algumas empresas como a Andrade Gutierrez e a Techint demonstraram interesse no projeto, que funcionaria como uma parceria público-privada (PPP). A ligação entre o terminal e a unidade da companhia em Araucária deve custar cerca de R$ 400 milhões.
O porto e o terminal em Paranaguá estão orçados em R$ 250 milhões e poderiam ficar prontos em um ano. A Compagas projeta que o terminal tenha capacidade de transformação de 7 milhões de m³/dia, para atender a uma demanda inicial de 5,5 milhões de m³/dia.
Em uma segunda fase do projeto, ainda sem data, o duto seria estendido até Sarandi, na região norte do estado. "O governo federal já sinalizou que não tem como ampliar a rede existente. É uma necessidade para a indústria local que de uma forma ou de outra têm que ser suprida", afirma Pizzatto.
Demanda
De acordo com um estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) encomendado pelas federações das indústrias do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, ao longo dos próximos dez anos a demanda por gás natural de cada um dos três estados terá um acréscimo de 10 milhões de metros cúbicos.
"Se não houver rede, a atração de novas indústrias e a capacidade instalada das que já estão na região ficará debilitada", afirma o professor do departamento de energia, petróleo e gás da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Armando Emmendoerfer. A estimativa é de que se nenhum novo duto for feito, os estados do Sul perderão 450 mil empregos e R$ 100 bilhões no PIB anual para as outras regiões do país melhores abastecidas.
Duto deve incentivar o uso de gás de xisto
A falta de uma boa rede de distribuição pode minar o potencial de exploração de gás de xisto no estado, que tem uma das bacias sedimentares mais propícias do país para a extração do combustível. De acordo com a Administração para Informação sobre Energia americana (EIA), que mapeou as reservas do gás pelo mundo, a Bacia Sedimentar do Paraná [que engloba o território paranaense e sul matogrossense] é a 10ª maior do mundo, mas sem dutos, cada terminal de exploração vira, no máximo, uma usina termelétrica. "Com uma distribuição ampla por dutos pelo estado, vamos aproveitar o potencial máximo para a indústria local. Vai ser uma verdadeira revolução energética", afirma o presidente da Compagas, Luciano Pizzatto.
A nova técnica de exploração horizontal do shale gás como é mundialmente chamado tornou a atividade economicamente viável. Antigamente, o gás de xisto que estava preso em jazidas a milhares de metros de profundidade do solo eram extraídas por uma perfuração vertical (ver figura ao lado), mas a reserva não era aproveitada ao máximo.
O sistema foi popularizado nos Estados Unidos. Lá, o shale gas mudou radicalmente o panorama energético do país, passando de 1% da produção doméstica em 2000 para 35% da produção nacional em 2012, segundo dados do Ministério da Energia dos EUA.
"É revolucionário. Com a partir de R$ 3 milhões já é possível instalar um terminal para fazer a exploração", explica Pizzatto. Ainda que o índice de sucesso seja de apenas 20% para cada perfuração no solo, o investimento vale a pena. "É uma excelente alternativa, principalmente para as indústrias de médio porte", afirma Pizzatto.
Bacia
A EIA acredita que só na Bacia do Paraná estejam guardados cerca de 6,5 Tm3, o que equivale a mais de 12 vezes as atuais reservas provadas de gás natural do país, de 450 bilhões de metros cúbicos. O professor de planejamento energético da Unesp, Carlos Eduardo Millo alerta que ainda é prematuro dimensionar o tamanho das bacias brasileiras. "Um estudo preliminar da Agência Nacional de Petróleo estima que o Brasil inteiro tenha estocado 5,6 Tm3 de shale gas, o que é significativo, mas inconclusivo sobre as nossas possibilidades", completa.